segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Lua & Vênus - faces do feminino


Não existe fórmula para que um relacionamento dê certo, mas certamente, é preciso que exista no mínino prazer e intimidade. O prazer de estar junto, desfrutando a companhia um do outro. O prazer do contato, o magnetismo, a atração física, o desejo. E a intimidade, a cumplicidade, o dia a dia compartilhado, a entrega, a aceitação do outro como ele é, inclusive com seus defeitos e  facetas mais sombrias.

Tanto o prazer quanto a intimidade são características do feminino, que reside nas mulheres e nos homens. Na astrologia, a intimidade é representada pela Lua,  o prazer, por Vênus. A grande alquimia  está em conseguir unir, numa única relação, ambos os pólos. A beleza e o prazer de Vênus com as inconstâncias da Lua. Porque nada neste mundo comporta apenas o belo e tudo o que existe é cíclico, nasce, morre, renasce, como a Lua em suas fases. Apenas incluindo o que não é tão belo, nem tão mágico, é que se pode compartilhar a verdadeira intimidade.

Para isso, é preciso um coração aberto, compassivo, capaz de incluir, aceitar, amar, desapegar-se da ilusão da eterna beleza, da eterna felicidade. É preciso aceitar  a morte dos sonhos, para poder conviver com o possível, para poder viver o amor real, o amor de verdade, o amor que suporta, o amor que troca.

 É preciso coragem, para enfrentar o medo do desconhecido, para entrar em contato com o mundo das sombras, para pisar num campo minado. Coragem para não se isolar, não se fechar no ressentimento. Coragem de crescer, abrindo mão do ego, das ilusões e fantasias infantis, narcísicas, tão típicas do "estar apaixonado", de que o outro tem que corresponder a todos os nossos sonhos, satisfazer todos os nossos desejos, apoiar todas as nossas escolhas. Apodrecer, deixar morrer, sem abandonar o barco.

Putrefatio, Mortificatio, Solutio, Calcinatio...a destruição é parte do processo, pois é aí que a  alquimia se realiza e o amor de verdade, aquele sem expectativas, sem projeções, sem condições, pode surgir. E é aí que renasce também o desejo, a energia flui e pode ser trocada, porque o Ser não é mais ameaçado, e cada um pode simplesmente existir, sabendo-se inteiramente aceito.


            Talvez as mulheres tenham mais facilidade para encarar a natureza vida-morte-vida nas relações, por vivenciarem os ciclos em seus próprios corpos, por estarem naturalmente mais em contato com suas emoções... Quando os homens se dispuserem a acessar sua natureza lunar, pode ser que as relações se tornem mais equilibradas. Meu professor de florais e alquimia, Joel Aleixo, diz que as mulheres têm um coração com maior capacidade de amar, talvez pelo poder de gerar, acolher e alimentar dentro de si um outro ser, sendo assim as grandes alquimistas da vida. Por isso, sofrem, choram, lamentam o medo e a falta de coragem dos seus parceiros. E aguardam, pacientemente, até que um dia estejam finalmente prontos...
           


Errática

Sou filha do Sol, mas minha natureza é lunar.
Em vinte e oito dias, vivo quatro fases, transito por doze (ou seriam treze) constelações,
 Me relaciono com  nove planetas fazendo conjunções, oposições, trígonos, quadraturas, sextis...
Tenho uma face sempre oculta.
 Sou uma, sou muitas, não sei quantas... melhor não fazer as contas...






Vênus encarcerada/ Desalquimia

Porque tanta raiva nada mais era
Que o disfarce de uma tristeza sem fim.
Tristeza, vida desperdiçada,
Tristeza, criatividade amputada
Tristeza, sonho que calou.
Tristeza, palavra não dita,
Tristeza, escolha maldita
Tristeza, o riso abafou.
Tristeza, coração traído
Tristeza, o grito contido
Tristeza, o talento desperdiçou.
Tristeza, amor não correspondido
Tristeza, o choro engolido
Tristeza, o canto sufocou.
De tristeza, agüentou calada a violência cotidiana.
Tristeza, a vida escorrendo na pia,
Tristeza, o matrimônio ruia,
Tristeza, a ferida não via.
Tristeza, cruz no coração.
Tristeza, bom dia ilusão!
Tristeza, a fuga da vida
Tristeza, faltou a coragem,
Tristeza, esconderijo do medo
Tristeza, o fogo não arde
Tristeza, só resta um lamento
Tristeza, que a morte não tarde.
Porque tanta raiva nada mais era
Que o disfarce para uma tristeza sem fim...



“As lágrimas são um rio que nos leva a algum lugar. O choro forma um rio em volta do barco que carrega a vida da alma. As lágrimas erguem seu barco das pedras, soltam-no do chão seco, carregam-no para um lugar novo, um lugar melhor.
Há oceanos de lágrimas que as mulheres nunca choraram por terem sido ensinadas a levar para o túmulo os segredos dos pais e das mães, dos homens, da sociedade, bem como os seus próprios. O choro da mulher sempre foi considerado muito perigoso, pois ele abre os trincos e os ferrolhos dos segredos que ela carrega. Na realidade, porém, para o bem da alma selvagem da mulher, é melhor chorar. As lágrimas são um princípio de iniciação para o ingresso no clã das cicatrizes, essa eterna tribo de mulheres de todas as cores, todas as nacionalidades, todos os idiomas, que no decorrer dos séculos passaram por algo de grandioso e que mantiveram seu orgulho.
Todas as mulheres tem histórias pessoais tão abrangentes e poderosas quanto a força espiritual existente nos mitos e nos contos de fada. Existe, no entanto, um tipo singular de história que está relacionada aos segredos da mulher, especialmente aqueles associados à vergonha. São algumas das histórias mais importantes que a mulher pode dedicar seu tempo a destrinchar. Para a maioria das mulheres, essas histórias estão incrustadas, não como pedras preciosas numa coroa, mas como cascalho na pele da alma”.

ESTÉS, CLARISSA P. “Mulheres que correm com os lobos”.

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