Esta noite eu
dormi tão bem e profundamente, que acordei sem saber onde estava e quem eu
era. Foi bom, gostei. Poucos segundos de uma sensação perturbadora e
maravilhosa: a de não ter um passado, um histórico, de não carregar um peso , uma
carga, um karma. Ser novinha em folha, recém-nascida, tela em branco. Nestes poucos
segundos, não sabia nada sobre mim, e estava tudo bem. Não-eu, não- identidade. Apenas
a sensação de Ser, existir. A pura leveza.
Pena que
passou tão rápido. Insustentável leveza....Logo relembrei: são oito da manhã,
hoje é quinta, eu sou Luciana, psicóloga, tenho paciente às 9h e estou
atrasada. Pronto, já era.
A Lua e Netuno estavam
em Peixes ,na cúspide na terceira casa do meu mapa astral. Netuno é quem dá
essa sensação de dissolução do eu, e em Peixes na terceira casa, da mente e da
forma como entendemos o mundo, deve ter causado esse rápido apagão. Acho que o
que senti foi tão bom por ter sido um desligamento do ego. Relâmpago, é verdade,
mas o suficiente pra ter uma ideia de como este estado deve ser agradável.
Nada parecido
com surto, loucura, perda de identidade. Estes também já vivi, uns doze anos
atrás, quando Plutão passou sobre meu Netuno, mas a sensação foi bem ruim, os
conteúdos inconscientes invadindo a consciência, o plano astral se manifestando
de forma medonha e brutal. Mas desta vez não havia conteúdo algum, apenas um
vazio repleto de paz. Diferente de qualquer estado alterado de consciência que
me lembro de ter vivido, com vinho, regressão, maconha, DMT, meditação.
Também pode
ter sido efeito do novo floral do Joel Aleixo que estou tomando, o Vitriol da
casa 12, casa de Netuno, da espiritualidade, da mediunidade, do inconsciente,
dos sonhos, do “lado de lá”. E também das drogas, da cachaça, das alucinações,
dos escapismos. No meu mapa astral, tenho Netuno nesta casa, ou seja, a força
do planeta redobrada, em seus melhores e piores efeitos. O planeta deve ter
aproveitado este trânsito por Peixes, para ativar ainda mais o floral e me ensinar
como a vida pode ser melhor quando nos desapegamos de nossas máscaras,
identificações e identidades, para simplesmente Ser.
Às vezes
carregamos tanta bagagem, que fica difícil caminhar. As drogas, as bebedeiras,
as fantasias, o consumismo, as ilusões e outros escapismos de Netuno em muitos
momentos ajudam a tornar a bagagem mais leve, mas o preço que pagamos é alto.
Não dá pra negar ou mascarar o medo por muito tempo, nem enganar o corpo,
forçando-o a encarar o frio ou o peso excessivo através de todo tipo de
embriaguez. Por isso o melhor caminho talvez seja mesmo o desapego...irmos, aos
longo da caminhada, nos despojando de toda a bagagem, peça por peça, até não sobrar nada, ou apenas
uma pequena trouxinha, como a do Louco, do tarô.Até que em dado momento, neste despojar de velharias, descobrimos que o mais importante, o sagrado, a divindade, sempre residiu dentro da gente.
De repente, me lembrei da música do Criolo: “Mê dê um gole de vida. Não precisa morrer pra ver Deus”.
De repente, me lembrei da música do Criolo: “Mê dê um gole de vida. Não precisa morrer pra ver Deus”.
Perguntais-me como me
tornei louco.
Aconteceu assim:
Aconteceu assim:
um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas - e corri sem máscaras pelas
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas - e corri sem máscaras pelas
ruas cheias de
gente, gritando:
"Ladrões, ladrões,
malditos ladrões!"
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram
para casa, com
medo de mim. E quando cheguei à praça
do mercado, um
garoto trepado no telhado de uma
casa gritou: "É um louco!".
casa gritou: "É um louco!".
Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol
beijava minha face nua, e
minha alma
inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras. E, como num
e não desejei mais minhas máscaras. E, como num
transe, gritei:
"Benditos, bendito
os ladrões
que roubaram minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.
que roubaram minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto
liberdade como segurança em minha loucura:
a segurança de
não ser compreendido, pois aquele desigual
que nos compreende
escraviza alguma coisa em nós.
Khalil Gibran