quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Não precisa morrer pra ver Deus


Esta noite eu dormi tão bem e profundamente, que acordei sem saber onde estava e quem eu era. Foi bom, gostei. Poucos segundos de uma sensação perturbadora e maravilhosa: a de não ter um passado, um histórico, de não carregar um peso , uma carga, um karma. Ser novinha em folha, recém-nascida, tela em branco. Nestes poucos segundos, não sabia nada sobre mim, e  estava tudo bem. Não-eu, não- identidade. Apenas a sensação de Ser, existir. A pura leveza.

Pena que passou tão rápido. Insustentável leveza....Logo relembrei: são oito da manhã, hoje é quinta, eu sou Luciana,  psicóloga, tenho paciente às 9h e estou atrasada. Pronto, já era.

A Lua e  Netuno  estavam em Peixes ,na cúspide na terceira casa do meu mapa astral. Netuno é quem dá essa sensação de dissolução do eu, e em Peixes na terceira casa, da mente e da forma como entendemos o mundo, deve ter causado esse rápido apagão. Acho que o que senti foi tão bom por ter sido um desligamento do ego. Relâmpago, é verdade, mas o suficiente pra ter uma ideia de como este estado deve ser agradável.

Nada parecido com surto, loucura, perda de identidade. Estes também já vivi, uns doze anos atrás, quando Plutão passou sobre meu Netuno, mas a sensação foi bem ruim, os conteúdos inconscientes invadindo a consciência, o plano astral se manifestando de forma medonha e brutal. Mas desta vez não havia conteúdo algum, apenas um vazio repleto de paz. Diferente de qualquer estado alterado de consciência que me lembro de ter vivido, com vinho, regressão, maconha, DMT, meditação.

Também pode ter sido efeito do novo floral do Joel Aleixo que estou tomando, o Vitriol da casa 12, casa de Netuno, da espiritualidade, da mediunidade, do inconsciente, dos sonhos, do “lado de lá”. E também das drogas, da cachaça, das alucinações, dos escapismos. No meu mapa astral, tenho Netuno nesta casa, ou seja, a força do planeta redobrada, em seus melhores e piores efeitos. O planeta deve ter aproveitado este trânsito por Peixes, para ativar ainda mais o floral e me ensinar como a vida pode ser melhor quando nos desapegamos de nossas máscaras, identificações e identidades, para simplesmente Ser.

Às vezes carregamos tanta bagagem, que fica difícil caminhar. As drogas, as bebedeiras, as fantasias, o consumismo, as ilusões e outros escapismos de Netuno em muitos momentos ajudam a tornar a bagagem mais leve, mas o preço que pagamos é alto. Não dá pra negar ou mascarar o medo por muito tempo, nem enganar o corpo, forçando-o a encarar o frio ou o peso excessivo através de todo tipo de embriaguez. Por isso o melhor caminho talvez seja mesmo o desapego...irmos, aos longo da caminhada, nos despojando de toda a bagagem,  peça por peça, até não sobrar nada, ou apenas uma pequena trouxinha, como a do Louco, do tarô.Até que em dado momento, neste despojar de velharias, descobrimos que o mais importante, o sagrado, a divindade, sempre residiu dentro da gente.

             De repente, me lembrei da música do Criolo: “Mê dê um gole de vida. Não precisa morrer pra ver Deus”.




Perguntais-me como me tornei louco. 
Aconteceu assim:
um dia, muito tempo antes 
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas 
as minhas máscaras tinham sido roubadas  
- as sete máscaras que eu havia confeccionado 
e usado em sete vidas  - e corri sem máscaras pelas
ruas cheias de gente,  gritando:
"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram
para  casa, com medo  de mim. E quando cheguei à praça
do mercado,  um garoto trepado  no telhado de uma 
casa gritou: "É um louco!".

Olhei para cima, pra vê-lo.  
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e
minha alma inflamou-se  de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras. E, como num
transe,  gritei:

"Benditos, bendito os ladrões 
que roubaram  minhas máscaras!" 
Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:
 a segurança de não ser  compreendido,  pois  aquele desigual
que nos compreende  escraviza alguma coisa em nós.

Khalil Gibran

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Saturno em Escorpião - tempo de foice e peçonha




Se é pra morrer,
Que seja com bom humor, por favor.

O morto tem que  apodrecer
Pra dar aos vermes o que comer.

Já não dá mais pra negar
O cheiro de carniça no ar!

Pra não passar por otário,
Melhor tirar de uma vez
Seus esqueletos do armário!

Se já morreu, deite
Quem não morre, não dança
Entregue, aceite
Entre na mudança

É tempo de foice e peçonha
 Só quem se reprime, se envergonha.

Atravesse  os portais do submundo
Viva o feio, o sujo, o imundo


Morrer é sustentável
Pode até ser agradável

 Transformação-reciclagem
A morte tem uma boa causa
É a rainha da compostagem!