quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Libra, Leão & Escorpião: meu amor, meu inimigo

“Mostra-me, ó amor de minha alma, onde pastoreias, onde repousas ao meio-dia, para que eu não comece a vaguear atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
(Cântico dos Cânticos)



Anteontem, Vênus entrou em Sagitário e eu fiquei romântica. É que tenho Vênus em Sagitário fazendo conjunção a Netuno no meu mapa astral, e sou o tipo de pessoa que acredita em amores espirituais, almas gêmeas, outras vidas e coisas assim. Tá, racionalmente sei que isso pode ser bobagem, mas...quem disse que sou uma pessoa racional?

Para tentar aplacar esta forte influência dos astros que ora me deixavam flutuar, ora  me faziam surfar nas azuis e rosadas ondas netunianas ( e muitas vezes tomar uns caldos gigantescos também), achei melhor ficar mais atenta aos ensinamentos das estrelas.

No mapa astral, a casa 7, regida pelo signo de Libra e pelo planeta Vênus, é considerada a casa do casamento, da parceria, das sociedades. É a casa que mostra o tipo de pessoa que você escolhe pra casar. Está associada ao elemento ar, ligado à racionalidade.

 Já a casa 5, regida por Leão e pelo Sol, é considerada a casa do romance, do prazer , a casa do verdadeiro amor. Está associada ao elemento fogo, ligado à paixão. Quer dizer, a sabedoria antiga já nos dava algumas pistas: na maioria das vezes, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, né?

Para a astrologia tradicional antiga, a casa 7, a do casamento, também era considerada a casa dos "inimigos declarados"!!!!

Na boa, eu acho isso muuuitooo interessante!

É que o inimigo declarado da casa 7 é "o outro", através do qual, pela convivência, podemos nos perceber por inteiros, enxergando nossas sombras e defeitos. Através do olhar do outro podemos nos conhecer, nos ver no espelho, e muitas vezes não gostar do que vemos. Mas ainda assim, através dele,  temos a chance de melhorar e nos aperfeiçoar. Agora, ninguém disse que isso é fácil. Até porque, nem sempre esta alquimia é bem sucedida, e muitas vezes as relações aprisionam, nos afastando de nós mesmos e da nossa essência.  Sartre já bem dizia, "o inferno são os outros"!

Já na casa 5, com Leão, podemos ser nós mesmos, desenvolver a individualidade e a essência espiritual  solar. Mas, já dizia o filósofo também, sem o outro, somos um eterno “vir a ser” que nunca se completa. O outro que atravanca os nossos projetos é o mesmo que dá sentido a eles. Portanto, a astrologia separa a parceria e a paixão, porque é o que nós, humanos ainda tão pouco evoluídos, em nossa visão e pensamentos lineares, acabamos fazendo, por nem sempre suportar o inferno do outro que é também o nosso próprio inferno.

        É mais fácil ver no parceiro o inimigo declarado e sonhar com um amor perfeito, verdadeiro, idealizado e leonino. Mas é só nos aproximarmos um pouco mais deste “amor verdadeiro” ,  que depois de um tempo, a paixão diminui e...pronto, já se torna ele o novo inimigo declarado e será preciso projetar o amor verdadeiro em outra pessoa.

Leão e a casa 5, ao mesmo tempo em que representam a essência espiritual solar, o eterno vir a ser das infinitas possibilidades do espírito, num nível de consciência mais inferior, simbolizam o ego e o narcisismo, as forças motrizes das “grandes paixões” incapazes de sobreviver a um mês de convivência,  tão comuns em nossos tempos. Já Libra e a casa 7 trazem o simbolismo de Vênus, planeta que representa o amor, em suas características de equilíbrio, neutralidade, união de opostos e subjugação do ego.

Imagino que o grande  desafio alquímico dos relacionamentos seja fazer o ar alimentar o fogo, unindo os potenciais da casa 5 e casa 7 numa única parceria, encarando seus desafios. Tudo isso, para fazer ferver as profundas águas escorpiônicas da casa 8, moradia da intimidade, e também do morrer e do renascer que ela proporciona. Lógico que com isso não quero dizer que acredito no “até que a morte nos separe” ou no  “felizes para sempre”. Às vezes a fervura no caldeirão desanda e entorna sobre a terra. Paciência. Aí o jeito é começar do zero uma nova mistura.

Mas eu acredito mesmo é no poder de sedução do inimigo. Acho que ele tem tudo pra ser um grande professor, e  pra quem está disposto a aprender com seus ensinamentos, esta pode  ser uma aventura muito excitante!




Eu sou para meu amado e seu desejo é para mim.
Vem, amado, saiamos para o campo, pernoitemos nas aldeias:
de manhã iremos logo para as vinhas, a ver se a videira floresceu,
se as flores estão-se abrindo, se floresceram as romãzeiras: 
ali te darei os meus amores.
As mandrágoras espalharam seu perfume às nossas portas,
todos os melhores frutos,
novos e velhos, guardei para ti.

(Cântico dos Cânticos)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?




Difícil ter vida pessoal no final do ano, já que esta é a época em que, aqui na dimensão onde tempo é dinheiro, é preciso alimentar  ainda mais a roda viva com sangue e suor.  Hoje, porém,  depois de semanas, finalmente  consegui ir a uma aula de yoga.

Fim da aula, hora de fazer  a postura do cadáver (savasana), se entregar e relaxar. Estou eu lá “fazendo a defuntona” quando de repente começam a emergir imagens em minha mente. Enquanto solto no chão cada parte do meu corpo, vejo uma mulher morta deitada numa mesa de necrotério e me lembro do sonho que tive esta noite. Na cidade do interior onde vivem alguns parentes,  meu pai, que é médico, recebia um chamado para ir fazer a autópsia de uma mulher. Eu ia junto. A mulher era uma artista, cantora, e estava lá, estendida na morgue. Eu não queria olhar, a cena era feia, a mulher estava cinza, dura, mas os médicos insistiam que eu acompanhasse tudo, apesar da minha resistência. De volta a yoga, começo a sentir todo o meu corpo vibrar e me dou conta do significado do sonho. Obviamente, a defuntona era eu, por isso estava tão difícil de encarar. Não é fácil ver tudo o que está morto no nosso interior, não é legal ver a vida apodrecer e ficar cinza, sem música e sem arte.

Caminhando de volta pra casa, comecei a pensar sobre a morte e sobre todo esse papo apocalíptico que anda pipocando no inconsciente do planeta. Como astróloga, posso dizer que há sim, um clima de morte no ar: quadratura de Urano com Plutão, conjunção de Plutão com Marte, Saturno em Escorpião e toda essa conversa que eu vivo repetindo por aqui. Tem sim uma nhaca astral pairando sobre nossas cabeças, agora se isso significa o fim do mundo eu não faço mesmo a menor ideia. No mais, acho engraçado esse medo todo que temos de morrer e de ver o mundo acabar. Apocalipse na verdade significa Revelação, e acho que é disto que estamos precisando. Fazendo a defunta ali na aula entendi que estou morta, que é preciso sentir a vida vibrar. E tenho fortes suspeitas de que não sou a única... Grande parte da humanidade está morta e o mundo já acabou faz tempo. Deve ser por isso que andam tão na moda estes filmes e séries sobre vampiros e zumbis. Os mortos-vivos somos nós, e a humanidade não precisa morrer, e sim renascer.

Enquanto pensava sobre isso, a rádio FM que tenho em minha cabeça sintonizava “Promessas de Sol”, do Milton Nascimento,  música que trata da nossa típica capacidade de negação em relação aos fatos históricos que envolvem a questão indígena. Eu ouvia assim: “Que tragédia é essa que cai sobre todos nós? Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?”  Impossível não fazer associação imediata à tragédia guarani-kaiowá e a de tantas outras etnias indígenas espalhadas pelo Brasil e por toda a América...

Ok, ok. Sei que neste ponto sempre tem aquela alma sebosa  pra perguntar: “Ora, Luciana, mas o que os guarani-kaiowá tem a ver com tudo isso? E o que eu tenho a ver com tudo isso? Você também vai se render a mais esta modinha de falso ativismo facebookiano?”.

 Respondo: tem a ver com você o mesmo que a defunta tem a ver comigo e que o apocalipse tem a ver com toda humanidade. Temos medo e negamos o óbvio, aquilo que está na frente do nosso nariz mas não queremos ver.  Os índios carregam parte da nossa sombra e nos mostram num espelho tudo que fizemos com o planeta, com nossos corpos, almas,  com nossas culturas. Lutamos dia a dia pela vida e por um pedaço de chão, e muitas vezes só conseguimos viver em minúsculos apartamentos,  apinhados, uns em cima dos outros, com os pés muito distantes da terra. Eu passo meses sem colocar meu pé num chão de terra! Não temos mais ligação com nossos instintos, destruímos os nossos corpos nos alimentando de veneno e ração industrializada, feita a base de milho transgênico. Cultuamos a nudez plastificada, siliconada e ridicularizamos os corpos em suas medidas e formatos naturais. Desprezamos o folclore  e a cultura de raiz para absorver  tudo que é enlatado e  importando. Não temos conexão com a natureza e quase morremos de alergia com uma picada de pernilongo. Não reconhecemos a divindade do Sol, da Lua e do trovão, nem a alma dos animais, mas pagamos fortunas a pastores estelionatários, a padres pedófilos e nos entupimos de carne intoxicada por hormônios.

Não temos raízes, não temos cultura, esquecemos a conexão com a alma e com o espírito, não sabemos quem somos. Vivemos como vampiros, extraindo da terra, dos animais e uns dos outros o alimento e a energia que precisamos para sobreviver, sem dar nada em troca a não ser morte e destruição. Isto para mim é morte em vida, e sinceramente creio que a grande revelação apocalíptica acontecerá quando cada ser humano se der conta de tamanha tragédia.


Se alguém quiser ouvir a música, esta é uma versão do Tarancón, uma das minhas preferidas:





quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Não precisa morrer pra ver Deus


Esta noite eu dormi tão bem e profundamente, que acordei sem saber onde estava e quem eu era. Foi bom, gostei. Poucos segundos de uma sensação perturbadora e maravilhosa: a de não ter um passado, um histórico, de não carregar um peso , uma carga, um karma. Ser novinha em folha, recém-nascida, tela em branco. Nestes poucos segundos, não sabia nada sobre mim, e  estava tudo bem. Não-eu, não- identidade. Apenas a sensação de Ser, existir. A pura leveza.

Pena que passou tão rápido. Insustentável leveza....Logo relembrei: são oito da manhã, hoje é quinta, eu sou Luciana,  psicóloga, tenho paciente às 9h e estou atrasada. Pronto, já era.

A Lua e  Netuno  estavam em Peixes ,na cúspide na terceira casa do meu mapa astral. Netuno é quem dá essa sensação de dissolução do eu, e em Peixes na terceira casa, da mente e da forma como entendemos o mundo, deve ter causado esse rápido apagão. Acho que o que senti foi tão bom por ter sido um desligamento do ego. Relâmpago, é verdade, mas o suficiente pra ter uma ideia de como este estado deve ser agradável.

Nada parecido com surto, loucura, perda de identidade. Estes também já vivi, uns doze anos atrás, quando Plutão passou sobre meu Netuno, mas a sensação foi bem ruim, os conteúdos inconscientes invadindo a consciência, o plano astral se manifestando de forma medonha e brutal. Mas desta vez não havia conteúdo algum, apenas um vazio repleto de paz. Diferente de qualquer estado alterado de consciência que me lembro de ter vivido, com vinho, regressão, maconha, DMT, meditação.

Também pode ter sido efeito do novo floral do Joel Aleixo que estou tomando, o Vitriol da casa 12, casa de Netuno, da espiritualidade, da mediunidade, do inconsciente, dos sonhos, do “lado de lá”. E também das drogas, da cachaça, das alucinações, dos escapismos. No meu mapa astral, tenho Netuno nesta casa, ou seja, a força do planeta redobrada, em seus melhores e piores efeitos. O planeta deve ter aproveitado este trânsito por Peixes, para ativar ainda mais o floral e me ensinar como a vida pode ser melhor quando nos desapegamos de nossas máscaras, identificações e identidades, para simplesmente Ser.

Às vezes carregamos tanta bagagem, que fica difícil caminhar. As drogas, as bebedeiras, as fantasias, o consumismo, as ilusões e outros escapismos de Netuno em muitos momentos ajudam a tornar a bagagem mais leve, mas o preço que pagamos é alto. Não dá pra negar ou mascarar o medo por muito tempo, nem enganar o corpo, forçando-o a encarar o frio ou o peso excessivo através de todo tipo de embriaguez. Por isso o melhor caminho talvez seja mesmo o desapego...irmos, aos longo da caminhada, nos despojando de toda a bagagem,  peça por peça, até não sobrar nada, ou apenas uma pequena trouxinha, como a do Louco, do tarô.Até que em dado momento, neste despojar de velharias, descobrimos que o mais importante, o sagrado, a divindade, sempre residiu dentro da gente.

             De repente, me lembrei da música do Criolo: “Mê dê um gole de vida. Não precisa morrer pra ver Deus”.




Perguntais-me como me tornei louco. 
Aconteceu assim:
um dia, muito tempo antes 
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas 
as minhas máscaras tinham sido roubadas  
- as sete máscaras que eu havia confeccionado 
e usado em sete vidas  - e corri sem máscaras pelas
ruas cheias de gente,  gritando:
"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram
para  casa, com medo  de mim. E quando cheguei à praça
do mercado,  um garoto trepado  no telhado de uma 
casa gritou: "É um louco!".

Olhei para cima, pra vê-lo.  
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e
minha alma inflamou-se  de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras. E, como num
transe,  gritei:

"Benditos, bendito os ladrões 
que roubaram  minhas máscaras!" 
Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura:
 a segurança de não ser  compreendido,  pois  aquele desigual
que nos compreende  escraviza alguma coisa em nós.

Khalil Gibran

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Saturno em Escorpião - tempo de foice e peçonha




Se é pra morrer,
Que seja com bom humor, por favor.

O morto tem que  apodrecer
Pra dar aos vermes o que comer.

Já não dá mais pra negar
O cheiro de carniça no ar!

Pra não passar por otário,
Melhor tirar de uma vez
Seus esqueletos do armário!

Se já morreu, deite
Quem não morre, não dança
Entregue, aceite
Entre na mudança

É tempo de foice e peçonha
 Só quem se reprime, se envergonha.

Atravesse  os portais do submundo
Viva o feio, o sujo, o imundo


Morrer é sustentável
Pode até ser agradável

 Transformação-reciclagem
A morte tem uma boa causa
É a rainha da compostagem!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Marte ataca!



Hoje eu já saí da cama irritada. Odeio acordar cedo e tive que  levantar às seis, paciente marcada para as oito. De cara já fui grossa com a minha mãe e discuti com o porteiro. Atrasada, peguei um taxi e o motorista esquentadinho brigou com um motoboy. O carro da faixa do lado bateu na traseira do outro e quebrou uma lanterna.

Cheguei no consultório na hora, mas a paciente não. Meia hora depois, mandou uma mensagem avisando que não viria. A essa altura eu já estava querendo estrangular a primeira pessoa que aparecesse na minha frente. Para ajudar, saí de casa usando bota, meia e blusa de lã...Sim, de manhã estava frio! O problema é que logo saiu um sol escaldante e eu comecei a derreter. Ao meio dia  estava irritada, suada e vermelha feito um pimentão. De calor e de raiva!

 Com medo de explodir  ou causar uma tragédia a qualquer momento, resolvi consultar os astros. Aí comecei a entender a situação. Lá estava ele: Marte, resplandecente em Escorpião,  seu domicílio e meu signo. O diabo estava fazendo uma conjunção com Sol, Mercúrio  e Urano no meu mapa, além de uma oposição à minha Lua em Áries, o outro signo que ele comanda.

Para colocar a cerejinha  que faltava em cima do bolo, desde a semana passada comecei a tomar um floral fortíssimo do Joel Aleixo, chamado Vitriol. Quis aproveitar o trânsito de Marte por Escorpião e tomar o floral de Marte em Escorpião (gênia!), para “potencializar as energias” e trabalhar um aspecto que tenho no meu mapa, que entre outras coisas, significa “alta agressividade”. Conclusão:  bem feito pra mim, que me transformei num demônio da tasmânia, espumante, vermelho e raivoso!

É que com Marte não se brinca, afinal de contas, ele é o planeta que representa a nossa força, agressividade, energia instintiva. É Ogum que com sua espada abre caminhos, é o Deus da Guerra, que não tem medo das batalhas sangrentas, Hércules chacinando a família enlouquecido pela ira. Acho que de certa forma, subestimei  este poder e venho aqui pedir desculpas em público, com a intenção de apaziguá-lo e de  com ele me harmonizar.

Marte, no meu mapa, está  aflito pela quadratura de um Saturno cobrador, que reprime todas as suas ações. E quando há um excesso de julgamento, de repressão, de “não pode”,  “não deve”, “não deixo”, a gente vai deixando pra lá, ficando tímida, se escondendo do mundo. Fica covarde, sente medo, deixa de agir. O problema é que, por maior que seja a repressão ou a negação, Marte jamais se submete. Na verdade ele se ressente, e se manifesta na forma de fúria, de ira, de violência e destruição.

Quem tem essa força redobrada, como é o caso das pessoas que tem Marte em Áries, em Escorpião, na casa um ou na oitava casa do mapa astral, muitas vezes começa a ser reprimido logo cedo. “Fica quieto, moleque!”. “O doutor achou melhor dar ritalina pra ela,  disse que é hiperatividade”. “Olha, meu bem, se você bater no coleguinha de novo papai do céu vai  te castigar!”. Desde pequeno vai aprendendo que raiva ou energia demais são coisas perigosas, que Deus não gosta e que é melhor se aquietar. Torna-se aquela pessoa submissa, calada, apática, anêmica, sem energia, sem pró-atividade. Aquele funcionário que sempre obedece, o marido resignado ou a esposa que apanha sem reclamar. Até que de repente,  sem que ninguém entenda o motivo, num “Dia de Fúria”, quebra tudo ao seu redor.

O autoconhecimento me  ensinou a ter medo de gente muito boazinha, quietinha, obediente. Sei que de algum lugar do inconsciente Marte espreita, pronto para atacar!


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Netuno em Peixes, oceano cósmico



O Senhor Krishna disse: Ó Arjuna, contemple Minhas centenas de milhares de vários tipos de formas divinas, de diferentes cores e aspectos. Contemple todos os seres celestes, e as várias maravilhas nunca antes vistas. Contemple, também, a criação inteira – o animado e o inanimado, e além do que você gostaria de ver – tudo tem lugar no Meu corpo . 
Mas você não pode Me ver com seus olhos físicos; portanto, Eu darei a você o olho divino para que veja o Meu majestoso poder e glória.

(...) E Arjuna viu o universo inteiro, dividido de muitos modos, mas estando todos eles em Um só, e todo o Uno no corpo transcendental de Krishna, o Senhor dos controladores celestes.  (Bhagavad Gita)



DMT - A Molécula do Espírito


quinta-feira, 26 de julho de 2012

O que nos promete o Ano da Tormenta?




      De acordo com o calendário maia, hoje se inicia um novo ciclo. Dia 24 de julho encerrou-se o ano do Mago Rítmico Branco. Ontem, dia 25 de julho, foi o que eles chamam de Dia Fora do Tempo, dia que fica entre o encerramento e o início de um novo ciclo galáctico de 364 dias. Por estar “fora” do calendário,  este Dia Fora do Tempo é considerado importante para a meditação, harmonização, para o contato com o Espírito e com o Centro da Galáxia. É um dia dedicado à paz, a evolução espiritual e ao perdão.

                Hoje, dia 26 de julho, inicia-se o ano da Tormenta  Ressonante Azul. A Tormenta, ou Cauac, simboliza um tempo de purificação. A ela se associam a água e o fogo, a chuva, o raio e o barulho do trovão. Fogo e água que queimam, limpam e purificam, transmutando o negativo, o ilusório, para que permaneça apenas o que é puro e essencial. O planeta associado a Cauac é Plutão,  o grande destruidor, aquele que transmuta, o portador do Fogo de Shiva.

                Curiosamente, mas creio que não coincidentemente, hoje também é dia de Nanã Burukê,  a Grande Avó, Orixá que simboliza a vida e a morte, o renascimento, o esquecimento das lembranças e dos sofrimentos das vidas passadas e a passagem para uma nova vida, a sabedoria. Nanã  está associada ao barro, à mistura da terra que nos recebe na morte e das águas  que nos trazem à vida.  Ela é o princípio e o fim e por isso também a eternidade. Ela detém os grandes segredos dos reinos desconhecidos,  os mistérios da vida e da morte, a história e a sabedoria dos ancestrais.

                Seguindo com as sincronicidades, de acordo com a nossa astrologia ocidental, hoje a Lua entra em Escorpião, signo de água que como Nanã, também representa os mistérios da vida e da morte, e que é regido por Plutão, o mesmo planeta associado a Cauac. Mais um detalhe interessante: no final de outubro, o planeta Saturno entra em Escorpião, onde ficará pelos próximos dois anos e meio, trazendo novas transformações e reestruturações.

                Para completar, no calendário Maia, estamos na Lua Magnética do Morcego, e na Onda Encantada do caminhante do Céu. O morcego,  animal  também associado aos mistérios da noite, nos incita a não “voar cegamente por aí”.  O morcego nos lembra que entre a vida e a morte,  temos um propósito, uma direção, metas e objetivos a cumprir, que não estamos aqui à toa. O Caminhante do Céu nos fala sobre a vigilância, sobre estarmos atentos às oportunidades que surgem para nos ajudar a realizar nosso propósito e também das armadilhas e obstáculos que podemos encontrar pelo caminho. Estar vigilante é estar atento, conectado à intuição e à razão. É questionar tudo, e nunca perder de vista o objetivo da caminhada.

                Com todas essas energias pairando no ar, o que podemos esperar deste ano que se inicia? Mudanças, muitas mudanças! O momento é de purificação para que possamos nos lembrar quem realmente somos e o que viemos fazer aqui. Hora de acordar, de começarmos a enxergar em meio às trevas e ilusões, hora de morrer e renascer para uma nova vida, mais consciente e iluminada. Hora de construir um mundo melhor, mais justo, de vivermos mais conectados às forças superiores. O Ano da Tormenta Azul tem um tom Ressonante. No Calendário Maia, este tom está associado ao número sete, que simboliza a união do yin e do yang, a androginia, a união do espiritual e do terreno, o espelho entre os dois mundos, a constatação de que “o que está em cima é como o que está embaixo”, de que é “assim na Terra como no Céu”. Talvez tenha chegado o momento de tomarmos consciência de nossa natureza espiritual e eterna, e ao mesmo tempo, da fragilidade da vida. Plutão e a Tormenta levam embora tudo o que não é verdadeiro e essencial, assim como o contato com a dor, a morte, as crises e as tormentas interiores nos fazem colocar todas as coisas em perspectiva.

                Cauac nos pede paciência, compreensão, profundidade, aceitação e também muita humildade. Cauac traz o aprendizado através da dor e das perdas definitivas, mas também a  sabedoria,  o amadurecimento, o renascimento a partir das próprias cinzas e o profundo conhecimento do que é eterno, verdadeiro, essencial. A Tormenta traz consigo o choro, mas também as águas que curam e purificam, e ao final do processo, promete o brilho eterno e reconfortante do Sol, enquanto Nanã promete nos embalar em seu colo de avó, trazendo alívio para nossas dores e a promessa de uma nova vida.

                Saluba!



quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Grande Jaguar, a Serpente Emplumada e o Guerreiro Beija-Flor ou... O retorno das tribos estelares





Não nos iluminamos imaginando figuras de luz, mas sim tomando consciência das próprias trevas.

C. G. Jung






          Para os Maias, a Via Láctea, ou seja, nossa galáxia, representava a Grande Mãe Cósmica, a partir da qual toda a vida nasceu. O seu centro representava para eles o útero cósmico.

        No interior do centro galáctico existe uma região escura de pó e nuvens, semelhante a um corredor escuro, conhecido atualmente por Dark Rift, ou Fenda Escura, e que era denominada pelos maias de Xibalba Be, ou Caminho Escuro.

        No dia 21 de dezembro de 2012, o Sol se alinhará com um ponto no fundo desta Fenda Escura, o que dará a impressão de estar nascendo a partir dele, como se este se tornasse um "Canal de Nascimento Galáctico".

         Será como se o Sol nascesse de novo do útero cósmico, e por isso os Maias escolheram esta data como o fim de seu calendário e o início de uma Nova Era. Para eles, este alinhamento representaria o ponto zero no relógio cósmico, marcando o início de um novo período evolucionário.

         Porém, antes do dia 21 de dezembro, passaremos por outros eventos cósmicos importantes, também assinalados no calendário Maia. O primeiro ocorrerá no dia 20 de maio, quando a Terra, o Sol e a Lua estarão alinhados com o chamado Sol Central, a estrela Alcyone na constelação das Plêiades e também com o centro da nossa galáxia (Via Láctea), durante um eclipse solar.

         Em termos espirituais e energéticos estaremos recebendo a luz/informação/consciência vinda do centro da galáxia e do Sol Central pleiadiano, que nos será retransmitida através do nosso Sol e da nossa Lua. Esta poderá ser uma espécie de preparação para o grande alinhamento com o centro da galáxia, para o renascimento a partir do útero cósmico. Primeiro nos alinharemos e nos conscientizaremos do nosso Sol Central nas Plêiades e depois com o centro da própria galáxia. Em termos simbólicos, isso representaria uma enorme expansão da consciência para a humanidade, ou pelo menos para aqueles que forem capazes de se sintonizar com esta elevada vibração..

         O segundo evento cósmico que está prestes a acontecer é a conjunção exata entre o Sol e Vênus, nos dias 05 e 06 de junho.

        Vênus iniciou dia 16 de maio seu movimento retrógrado através do signo de Gêmeos. A retrogradação (fenômeno em que temos a impressão de que o planeta está "caminhando para trás") durará até 27 de junho, quando o astro retomará seu movimento direto, rumo ao signo de Câncer.

     Vênus, também conhecida como "Estrela da Manhã" ou "Estrela da Tarde", foi um planeta muito estudado pelos Maias, que basearam todo o seu calendário na sua movimentação. Sua órbita ao redor do Sol dura 224 dias e 3/4, e ao longo do período de 9 anos, Vênus descreve ao redor da Terra uma perfeita estrela de cinco pontas, tocando a cada um ano e oito meses uma ponta da estrela. Agora, dia 05 de junho de 2012, em sua retrogradação, tocará outro ponto da estrela, no signo de Gêmeos e na Constelação de Touro. O pentagrama é o símbolo da Divina Proporção, do Homem Universal, dos cinco elementos, da proteção e da perfeição. Invertido, representa o mal, o demoníaco, o imperfeito. Vejam o desenho abaixo:








            Neste dia 05 de junho, Vênus estará fazendo uma conjunção exata com o Sol, ou seja, aos nossos olhos, estará “mergulhando  e se fundindo a ele”. Para os Maias, Vênus era o representante de sua divindade Quetzalcoatl, a Serpente Emplumada, um Ser de profunda sabedoria e bondade, um Ser Crístico que veio à Terra ensinar a humanidade e por ela se sacrificou, voltando à sua terra natal e prometendo retornar em nossos corações, para que conhecessemos o Amor em seu mais profundo significado. Para a nossa astrologia ocidental, Vênus é o planeta do amor, da graça, da beleza e da bondade. De acordo com os Maias, essa conjunção de Vênus com o Sol, na constelação de Touro (embora no signo de Gêmeos), representaria o  “ Retorno de Quetzalcolatl”.

Para os maias e os astecas, Tezcatlipoca e seu irmão gêmeo, Quetzalcoatl, juntos, criaram o universo.  Tezcatlipoca é a divindade associada à noite, ao norte, ao frio, a escuridão. Carrega consigo um espelho negro, de obsidiana, e nele nos mostra nossos, defeitos, fragilidades, nossa sombra, a  fim de exterminar nossa arrogância e  egoísmo. Assim, nos ajuda a subjugar o ego, através da autoconsciência, para que possamos ascender aos planos espirituais. Tezcatlipoca e Quetzalcoatl são níveis de consciência, e ambos habitam dentro de nós. Tezcatlipoca vive em nosso subconsciente, representando nossa parte obscura, enquanto Quetzalcoatl representa a supra consciência, a luz que nos habita, o Cristo em nós. Vênus e o simbolismo do pentagrama estão associados a estas duas divindades inseparáveis que vivem dentro de nós.

Tezcatlipoca é o  Ego, a Sombra, o Inconsciente, a Escuridão, o Iniciador da consciência,  a penumbra que precisa existir para que tenhamos consciência da Luz. È o erro, o submundo, as paixões e os desejos frustrados. È representado pelo jaguar que habita a montanha. È a sombra que precisamos aceitar e integrar para que possamos nos fundir à luz da consciência. È o grande tentador, o que incita as perversões, para nos testar e levar ao autoconhecimento. É o sol negro que habita em cada um de nós.

Seu irmão gêmeo é Quetzalcoatl,  a sabedoria e a luz, que não podem ser alcançadas antes de termos passado por Tezcatlipoca. É a pureza, a consciência iluminada, a consciência solar, livre dos grilhões, vícios e apegos do ego. È a beatitude e a consciência mística, a união do mortal e do divino, do homem e do deus, representado pela Serpente Emplumada que levanta vôo, ascendendo aos céus. É a consciência obscura que desce aos abismos da mente, conhece a si mesma e é iniciada nos templos interiores pelo grande jaguar Tezcatlipoca, o portador da Luz, entendendo e integrando em si a experiência do bem e do mal e alcançando a sabedoria transcendente.

Tezcatlipoca, o grande jaguar, nos dá o dom do livre arbítrio, o conhecimento e a sabedoria que vem com os erros, e sem ele é impossível o despertar da consciência. É através de seu espelho negro de obsidiana onde se refletem nossos erros, desejos, sentimentos, que encontramos nossa verdadeira força e conhecemos nosso verdadeiro rosto, e é só através dele que podemos chegar à Quetzalcoatl, pois sem o conhecimento da escuridão jamais poderíamos ter consciência da luz. Tezcatlipoca e Quetzalcoatl são os dois lados da mesmo moeda,  os gêmeos inseparáveis que habitam nossa consciência.

A conjunção que ocorrerá entre o Sol e Venus, nos dias 5 e 6 de junho, para a sabedoria maia, representa o retorno de Quetzalcoatl, e a consciência destas duas polaridades dentro de nós. A Luz do Sol, representando a consciência, iluminará Vênus, representante de Quetzalcoatl, nossa luz crística. Porém, como ninguém chega a Quetzalcoatl, sem antes passar por Tezcatlipoca, o grande Jaguar,  este alinhamento poderá, antes de nos mostrar nossa amorosa luz, nos colocar diante das nossas sombras, medos, defeitos, para que aceitando e perdoando nossa escuridão possamos integrar a luz.

A amorosa energia Crística de Vênus vem nos trazer cura, mas para que um organismo se cure, antes ele precisa purgar os venenos e impurezas que o estão adoecendo.

Uma outra divindade que estará representada nos eventos cósmicos de 2012 é Huitzilopochtli. Será este Deus Solar, grande guerreiro das estrelas, que segundo a sabedoria dos antigos maias e astecas, no dia 21 de dezembro de 2012, ao final do grande ciclo, nos conduzirá a uma nova era de amor, paz, serviço e humildade.

Huitzilopochtli é simbolizado por um beija flor, e por ser um guerreiro solar, representa a  batalha que ocorre dentro de nós, e a capacidade que temos de vencer a nos mesmos, nossos vícios, defeitos, paixões. Representa o renascimento, já que o beija flor dorme e se renova durante o inverno, quando perde suas penas, renascendo na primavera. Huitzilopochtli é filho da Virgem Coatlicue, e também um representante da consciência Crística,  o Mensageiro Colibri, o Guerreiro e Logos Solar.

De acordo com a mitologia dos maias e dos astecas, o surgimento da consciência de Huitzilopochtli dentro de nós representaria a Vitória do Guerreiro Solar, da Luz sobre as trevas, da consciência sobre a inconsciência, após um período de intensas batalhas interiores.. Representaria a transcendência da dualidade de Quetzalcoatl e Tezcatlipoca, o renascimento de uma consciência unificada, de uma nova humanidade e o início de um tempo de amor e paz.

Que assim seja!





Abaixo, uma animação mostrando o trânsito de Vênus e sua conjunção com o Sol na constelação de Touro:



 



quarta-feira, 2 de maio de 2012

Lilith e os encantos da Lua Negra





“Porque eu sou a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços de minha mãe
Eu sou a estéril, e numerosos são meus filhos
Eu sou a bem-casada e a solteira
Eu sou a que dá a luz e a que jamais procriou
Eu sou a esposa e o esposo
E foi meu homem quem me gerou em seu ventre
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã de meu marido
E ele é o meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a discreta.”

Hino a Ísis, escrito no sec III ou IV a.C., descoberto nos manuscritos de Nag Hammadi, em 1947.



Deliciosamente inspirada pela conjunção que acontece neste momento entre o Sol, Lilith e Júpiter em Touro, na quinta casa do meu mapa, resolvi falar um pouco esta deusa marginalizada. 

           Mesmo antes de conhecer sua história, Lilith já me despertava medo e curiosidade. Sempre que alguém pronunciava esse nome eu identificava as mais variadas correntes de sentimentos por trás da palavra: medo, raiva, desprezo, respeito, prazer, desejo, inveja. Com o tempo  e os estudos de astrologia e psicologia, comecei a compreender melhor este mito tão controverso.

Eu gosto bastante da psicologia junguiana, mas gosto ainda mais da astrologia, pois na astrologia, através do posicionamento dos signos e  planetas, podemos identificar de forma prática, quase concreta, como, de que forma e em quais áreas certos mitos e arquétipos se manifestam com mais intensidade em nossas vidas. Não foi à toa que Jung se interessou e dedicou tanto tempo ao estudo dos astros. A astrologia pode ser vivida, sentida na pele, e é na pele que a gente começa a compreender de verdade.

Na mitologia hebraica, Lilith foi a primeira mulher de Adão, criada por Deus a partir do barro, antes da existência de Eva. Era linda, independente, inteligente e justamente por isso, se recusou a submeter-se a Adão. Achava que por ter sido criada por Deus da mesma forma e com o mesmo material que seu companheiro, tinha direitos iguais aos dele, por isso, no ato sexual, insistia em  também poder ficar por cima, mas Adão não concordava com essa atitude. Um dia, então, Lilith se rebelou e foi embora, abandonando-o enquanto dormia. Ao despertar, Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith. Este,  para consolá-lo, criou Eva, a partir de sua costela, dando a ele uma esposa dócil e submissa.

Exilada do Paraíso, Lilith mergulhou no Mar Vermelho, tornando-se maldita (maldita é a mulher que ousa não se submeter, que ousa contrariar os desejos do seu homem!), uma criatura das trevas, geradora de demônios que instigavam os desejos dos humanos. Por motivos óbvios, nunca gostou muito de Eva , e passou a odiar tudo o que se relacionasse a ela: marido, filhos, casamento, família, submissão, tornando-se uma “força destruidora”.

Seu simbolismo está ligado ao inconformismo, à revolta inerente ao ser humano, que quer sempre mais, mesmo aquilo que não pode ter. Representa o que nos move, aquilo que nos seduz, assim como os desejos gritantes, às vezes insatisfeitos, que geram ressentimentos, desesperos, auto-traições. Lilith nos fala sempre da nossa conexão com o desejo, os instintos, o lado sombrio da vida (sombrio no sentido de “não consciente”), assim como das armadilhas e do crescimento em que implicam. De acordo com Jung, o despertar de Lilth pode ser trágico para uma pessoa despreparada, mas é uma prerrogativa à individuação.

A história desta mulher rebelde, independente, dona dos próprios desejos, é contada de várias formas, nas mais diversas mitologias. Na mitologia egípcia, associa-se a Ísis, divindade lunar. Nos mitos gregos podemos vê-la se manifestar através de Hécate, a deusa da Lua e da magia, rainha das encruzilhadas, do nascimento, da vida e da morte, dos encantamentos e do destino. Hécate tem três faces, e cada face representa um caminho que podemos seguir diante das encruzilhadas da vida. Simboliza os momentos de escuridão e a busca da luz interna, a procura pela jornada do espírito e os desafios do caminho.

Lilith tem o poder de castrar ou de iniciar, de conferir poder ou estagnação. Com sua magia, toca de maneira singular a superfície e as profundezas. Sua influência é ao mesmo tempo sutil e avassaladora. Lilith, diferente de outras deusas femininas, não evoca a relação, e sim a separação, em nome de um resgate,  da busca pela individualidade e pela individuação. Sua oposição a Eva sugere  a dependência apenas de si mesma, de sua força, sua magia. Seu poder de co-criar está nela mesma e não se apoia em referenciais externos e nem em relacionamentos. O resgate deste arquétipo, é portanto, um ponto crucial com o qual nos deparamos várias vezes na vida – é a encruzilhada, são as escolhas, o deparar-nos com nossos próprio desejos - , são os momentos em que nos desligamos do que nos dá a ilusão da segurança, e seguimos rumo ao desconhecido. É também a solidão e o desolamento que tudo isso gera e a experiência de clarificação, de reestruturação dos nossos valores através da caminhada pelo deserto interior, assim como a reconquista do nosso poder e da nossa plenitude pessoal.


            Na astrologia, Lilith dá a volta no zodíaco em 9 anos, e seus trânsitos sempre anunciam acontecimentos e tempos difíceis. Podemos saber em quais setores dependendo de onde ela se encontrar no nosso mapa astral. Por onde ela passa, provoca crises, questionamentos, excessos, transbordamentos de questões reprimidas, nos mostrando o que precisamos vivenciar, desejos que precisamos realizar para que nossa evolução possa prosseguir. Lilith em astrologia é também chamada de Lua Negra, pois é um ponto que absorve tudo, nada pode resistir à sua ação. É o nada, o vazio, a ausência de luz,  o buraco negro que precisa ser preenchido, o desejo que precisa ser saciado, a energia que precisa se manifestar e ser canalizada.

Dependendo do signo e da casa onde se encontra no mapa, Lilith revelará uma tomada de consciência necessária, inevitável, que pode acontecer através de circunstâncias ou acontecimentos trazidos pelo “destino” (ou por nosso próprio inconsciente). Indica também um ponto onde não nos satisfazemos com pouco, onde temos uma fascinação extrema, onde buscamos a verdade última, o absoluto, a autenticidade, a lucidez, a elevação da consciência, uma tendência a ir até o fim, até as últimas consequências. Ou um medo absoluto, uma recusa total.

No mapa astral de um homem, sua posição nos fala sobre o que Jung chamava de anima, ou seja, sua imagem de mulher ideal, assim como o componente feminino de sua personalidade. No mapa de uma mulher, dá indicações sobre seu animus, ou seja, sua imagem de homem ideal ou componente masculino de sua personalidade.

O mito de Lilith está ligado também aos triângulos amorosos, representando “a outra”, “a amante”, ou “o outro”, “o amante”. Lilith é o instinto, a sensualidade, e  só por isso muitas vezes associa-se ao nosso pior, pois este é um lado que geralmente reprimimos, e que se transforma em crueldade, pornografia, vergonha. Lilith é a que seduz, é auto-suficiente, auto-erótica, não precisa necessariamente do outro para sentir prazer. É nosso lado instintivo, nossa libido, nossa busca por autonomia, nosso intinto de sobrevivência, nossa busca por prazer e por autenticidade. Fala de nossos pontos sensíveis, vulneráveis, onde estão nossas fraquezas e por isso também o potencial para nossas maiores forças. Lilith é nosso lado Divino, que por algum motivo reprimimos, desprezamos, banimos para as sombras, e que necessita ser acolhido, reintegrado, a fim de nos devolver o prazer e a alegria de viver.








quarta-feira, 18 de abril de 2012

O desafio de Plutão em Libra - aos meus companheiros de geração






Eu adoro ler e não conseguiria nunca dizer quais os livros que mais gostei, pois foram muitos, muitos mesmo. Mas este foi um dos que me marcaram: “Enquanto corria a barca”, da autora Lucy Dias, publicado pela Editora Senac.  Vejam o que diz sua sinopse:

“A autora demonstra nesse livro que os anos 70 formaram a mais trepidante década do século XX. Foram anos de chumbo, piração e amor. Neles, a androginia, o feminismo, os gays, as crises, pessoais, a solidão e o desespero de muitos jovens em postura de confronto tiveram destaque nunca visto. Os depoimentos nele incluídos contribuem para a compreensão de um período de profundas transformações”.


Sempre fui apaixonada pelos anos 70, sua música, estética, idéias. Doces Bárbaros, Novos Baianos, Raul Seixas. Janis Joplin, Jim Morrison, Beatles, Rita Lee, Freddie Mercury. O Sítio do Pica Pau Amarelo, Dancing Days, As Frenéticas, As Panteras. Calça boca de sino, salto plataforma, plumas, penas, incensos, artesanato. Miçangas, yoga, flores e amores... Queria ser hippie, sou fascinada pelas histórias que minha mãe contava sobre a época da ditadura e seus guerrilheiros, e sempre tive uma quedinha pela psicodelia. Quando li este livro, senti saudades...Saudades de um tempo em que não vivi, já que nasci em 1976! Porém, fiquei intrigada, pensando no porquê de tanta identificação. Nesta época, já estudava astrologia e fui novamente olhar meu mapa astral. Vi meus planetas e constatei o óbvio, para o qual nem sempre a gente atenta: por nascer nesta época, carrego impregnadas em mim suas energias: Plutão em Libra, Urano em Escorpião, Netuno em Sagitário...Eu e todas as pessoas desta  mesma geração  - período que vai aproximadamente de 1971 a 1983 - , que nasceram sob a influência destes mesmos trânsitos planetários, já que Plutão, Urano e Netuno são planetas geracionais, ou seja, seus trânsitos são lentos e duram o período de uma geração.

Plutão (transformação, revelação) transitou por Libra (relacionamento) de 1971 a 1983, e durante este período, revirou a lixeira dos relacionamentos afetivos. O casamento começava a deixar de ser um sonho romântico e conceitos como “felizes para sempre” e “até que a morte nos separe” passavam a ser questionados. Somos filhos da grande crise conjugal, da descoberta de que sexo e amor nem sempre andam juntos, de que não vale a pena sacrificar a  felicidade por uma vida de conveniências e  aparências, da conclusão de que a sociedade nunca estará satisfeita e portanto foda-se! Somos filhos de uma geração que sofreu muito em seus relacionamentos e que abriu caminho para que o divórcio deixasse de ser um tabu. E , obviamente, pagamos um certo preço por esta herança, vivenciando também muitas dores em nossos relacionamentos afetivos. Poucas são as pessoas de nossa geração que não viveram intensos aprendizados e transformações através de seus relacionamentos...

Nesta mesma época (1974-1981), Urano (inovação, liberdade) transitava por Escorpião (sexualidade), trazendo a liberação sexual. Como continuar casado numa época em que ninguém era de ninguém e todo mundo podia comer todo mundo? Só podia dar na crise de Plutão em Libra mesmo! Com Urano em Escorpião, os gays começaram a sair do armário, nos brindando com o colorido de suas purpurinas. Muitos preconceitos e tabus sexuais foram quebrados. O preço de tudo isso foi pago depois, com a entrada de Plutão em Escorpião, trazendo a AIDS, o medo associado ao sexo, e a necessidade da vivência da sexualidade com um pouco mais de consciência, mas primeiro foi preciso quebrar padrões e liberar a repressão, o que Urano sabe fazer como ninguém! Nossa geração ganhou uma sexualidade um pouco mais sadia, embora no que diz respeito a este tema, a humanidade ainda tenha muito o que aprender....

Para completar, Netuno transitava por Sagitário (1970-1984), dissolvendo (Netuno) dogmas, postulados, doutrinas, religiões, preconceitos de todos os tipos (Sagitário). Com Netuno em Sagitário, fortaleceu-se a compreensão de que não é necessário ter religião para ter espiritualidade. A mente se expandiu, se liberou com o uso do LSD, conheceu as experiências psicodélicas de Thimothy Leary. Carlos Castaneda presenteava o mundo com os conhecimentos de Dom Juan, abrindo as portas das mentes e introduzindo o conhecimento xamânico das plantas de poder. Viajar, pelas estradas  da mente, ou com a mochila nas costas, era um caminho para a liberdade, espiritualidade, busca de si mesmo e do conhecimento superior. O contato com outras culturas e a expansão da consciência revolucionou crenças, estilos de vida, aproximou da natureza fazendo brotar a consciência ecológica.

Os anos de chumbo, talvez pelo excesso de repressão e turbulência no cenário político, econômico e social, foram marcados pela busca por liberdade em vários setores da vida – nos relacionamentos, na sexualidade, na mente, no espírito, e querendo ou não,  nossa geração traz na alma esta marca. E agora, os filhos de Plutão em Libra estão sendo chamados à ação.

 A quadratura de Plutão com Plutão (Plutão, atualmente em Capricónio, faz uma quadratura, ou seja, um ângulo de 90 graus com nosso Plutão natal, em Libra), o trânsito de Saturno pelo signo de Libra, fazendo uma conjunção sobre nosso Plutão natal, Urano passando por Áries, se opondo a nosso Plutão libriano ativam todas as energias absorvidas no momento de nosso nascimento e as convidam a se manifestarem. Tivemos trinta e poucos anos para sofrer, purgar, compreender e aprender com tudo o que absorvemos de nossos pais e agora é a nossa vez de transformarmos o mundo. As sementes que foram plantadas nos anos 70 estão maduras e prontas para serem colhidas. Por isso, temas daquela época estão voltando à tona.

 Nunca se falou tanto em repressão, ditadura, rebeliões, revoluções e guerrilhas como agora. A ecologia, a permacultura, a espiritualidade, a liberação da mente, as novas formas de sexualidade e relacionamentos são assunto novamente. Com a ajuda dos trânsitos de Plutão e Capricórnio, Netuno em Peixes, Urano em Áries, estamos sendo convidados a construir uma sociedade mais justa, onde haja menos controle e abuso de poder, onde reine a compaixão, a compreensão, a iniciativa e a independência.

Nos últimos trinta e poucos anos, aprendemos, com os erros de nossos pais e com nossos próprios erros, que não existem almas gêmeas, que não precisamos da “nossa outra metade” para sermos felizes, e que um relacionamento de verdade só se constrói com base na liberdade e no amor. Aprendemos que “para sempre” é tempo demais. Aprendemos que homem não precisa casar só com mulher, nem mulher só com homem. Que o amor se manifesta das mais variadas formas, que cada um tem o direito de transar como e com quem quiser. Que espiritualidade é muito mais do que religião, e que religião pode sim ser uma forma de dominação. Aprendemos que família não precisa ser constituída de papai, mamãe e filhinhos, e que podemos ter dois pais ou duas mães, que podem ser casados no papel ou não. Entendemos que homem pode sim casar com homem e mulher com mulher, com direito a véu, grinalda, certidão e tudo o que quiserem. Aprendemos que não precisamos chacinar os animais para nos alimentarmos, aprendemos que podemos viver de forma mais leve e saudável, preservando a natureza, nossos corpos e o planeta. Aprendemos que não precisamos ter filhos só porque a sociedade impõe e que família somos todos nós, filhos do Céu e da Terra. Agora é nossa hora de começar a ensinar. De preferência, através do exemplo.













terça-feira, 10 de abril de 2012

Raul: com os astros nas alturas



Neste feriado eu fui ao cinema ver o documentário sobre o Raul Seixas...

- “Nossa, mas Raul, Luciana? Que clichê!”.

De novo, só pra lembrar: clichê só é clichê para quem não consegue ver além do clichê. Eu adorei o filme, dei muitas risadas, me comovi, e até cantei com os adolescentes que estavam sentados ao meu lado (contra os quais, a princípio tive a maior resistência imaginando que fossem me irritar muito...).

Saí do cinema impressionada com a criatividade, a capacidade do cara de inovar, quebrar tudo, ir até o osso, beber até morrer, de não ter se vendido para o sistema até o fim. Fiquei pensando no desafio de passar a vida toda “controlando a maluquez misturada com a lucidez”. E, obviamente, comecei a fazer conexões astrológicas, pois não consigo me livrar deste vício, entre tantos outros...

O zodíaco tem 12 signos que comandam 12 casas. Todo mundo tem todos os signos e todas as casas. Algumas pessoas, porém, tem como desafio, ir além, ousar, criar, levar uma mensagem ao mundo. Algumas pessoas tem o desafio de Ser (assim mesmo, com S maiúsculo). E geralmente, essas pessoas carregam muitos planetas - a maioria deles -  nas casas que se localizam na região superior do mapa, regidas por Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes, ou possuem o Sol e o Ascendente nestes signos.

As casas que ficam na região inferior do mapa são as seguintes:  casa um, regida por Áries, que representa o corpo físico, a luta pela sobrevivência. Casa dois, de Touro, que fala do dinheiro que comanda o mundo e sem o qual não conseguimos sobreviver. Casa três, de Gêmeos, que fala sobre comunicação e nossa necessidade de trocarmos idéias, informações, nos expressarmos. Casa quatro, de Câncer, que fala sobre nossa mania de formar famílias e procriar.  Casa cinco, de Leão, que se refere aos filhos, conseqüência da família formada. Casa seis, de Virgem,  associada ao emprego que precisamos ter para ganhar dinheiro, garantir a sobrevivência e sustentar a família. E a casa sete, que fala da eterna busca por parcerias, através das sociedades, relacionamentos, casamentos.

Estas casas inferiores, normalmente, comandam a vida do cidadão comum, respeitado, que ganha quatro mil cruzeiros por mês e agradece ao Senhor por poder ir com a família todo domingo no zoológico dar pipoca aos macacos.

Mas é a partir da oitava casa, a de Escorpião, que rege o autoconhecimento e as grandes transformações que o sujeito começa a ficar chato e não achar mais nada engraçado. É aí que ele começa a se aprofundar e ver que a vida é mais que macaco, praia, tobogã, apartamento, carro e jornal. Na casa nove, de Sagitário, a pessoa entra em contato com idéias elevadas, altos ideais, vai para a Universidade, estuda filosofia. Na casa dez, de Capricórnio, percebe que também é responsável “pelo nosso belo quadro social” e se vê na obrigação de fazer algo para mudar as coisas. Na casa onze, em Aquário, ousa fazer diferente, ir além das cercas embandeiradas, abre ainda mais a mente, e até cogita a possibilidade da existência de discos voadores. E finalmente na casa doze, rompe com a idiotice do ego humano, transcende  os dez por cento da cabeça animal e une-se ao Eu Superior.

As pessoas que tem muitos planetas na parte superior do mapa têm a missão de trazer uma nova visão para a humanidade, de ir além, de mostrar que existem infinitas possibilidades além da vidinha limitada pelo sistema, da luta pela sobrevivência, família, filhos, casamento e emprego fixo. Estas pessoas, geralmente, possuem uma sensibilidade maior, uma percepção de longo alcance,  capacidades artísticas, capacidades de se conectarem com energias poderosas, arquétipos grandiosos, com tudo o que transcende o óbvio, o consciente, o visível, o conhecido. E esta não é uma missão fácil, já que para ser canal para este tipo de energia é preciso ter uma boa dose de lucidez, para não cair de vez na maluquez. Ou de maluquez pra não cair de vez na lucidez. É como andar no fio da navalha, e a tentação a romper de vez com a “realidade” e ficar de vez do “outro lado”,  na “loucura real”, que com certeza é muito mais interessante, é sempre muito grande.

Como não poderia deixar de ser, Raul tinha muuuitos planetas nas casas dez, onze e doze do mapa dele.  Marte e Vênus em Touro no meio do céu, dando a ele um mega carisma. Sol, Mercúrio, Saturno e a Cabeça do Dragão  em Câncer, na casa doze, ligada a Peixes, às artes, ao inconsciente, ao alcoolismo, à espiritualidade e à “loucura”, conferindo simpatia e  maluquice beleza. Urano em Gêmeos na casa onze, de Aquário, trazendo a inovação e a rebeldia na forma de se comunicar. Isso sem falar no poderoso Plutão conjunto ao ascendente Leão e na Lua em Aquário - signo que por si só já é a cara da Sociedade Alternativa - ,  na casa sete, aumentando ainda mais sua popularidade e capacidade de levar às massas mensagens complexas e idéias elevadas, numa linguagem simples e de apelo popular.

Belo exemplo do que é viver sem hipocrisias, conectado com o Espírito, aprendendo a ser louco, sem medo de quebrar regras e ultrapassar convenções. Nunca fui grande fã de Raul nem de ninguém, pois abomino tietagens, mas nesse caso, faço coro aos adolescentes: “Toca Raul!”.






terça-feira, 3 de abril de 2012

Tirando o escorpião do aquário ou... O desafio de saudar o Sol




“Eu não me identifico nem um pouco com o signo de Virgem, esse horóscopo deve estar errado”. “ Nossa, eu sou super tímida, não tenho nada a ver com o signo de Gêmeos, que dizem ser tão falante e comunicativo”. “Eu sou canceriana e não sou nem um pouco família!”. Já ouvi comentários assim de muitas pessoas e não deixo de pensar que elas têm razão. Eu nasci sob o signo de Escorpião, e como toda boa escorpiana, tenho o maior orgulho do meu signo, adoro ser o “bicho ruim do zodíaco”, mas confesso que muitas vezes também sinto esse incômodo. Acho que tenho algumas características, mas me faltam muitas outras das que descrevem o comportamento de Escorpião.

Algumas destas dúvidas foram esclarecidas quando o Joel Aleixo, com sua sábia visão alquímica da astrologia, bateu o olho no meu mapa e disse: “Você tem Sol em Escorpião na casa 11, que é a casa de Aquário, ou seja, você é uma aquariana que nesta vida veio aprender a ser Escorpião. Este é seu desafio!”. O Joel sempre nos fala que os signos são os desafios que se fazem às casas e aos planetas, e isso muda bastante a visão que temos da astrologia e do mapa astral. Ele diz que os planetas que temos nas casas se referem a experiências de outras vidas, e o signo é o novo, o desafio que o espírito se propôs, uma nova qualidade que vem desenvolver.

Isso é muito interessante, porque mostra o quanto vivemos apegados ao passado, às velhas experiências, e às vezes passamos a vida toda repetindo antigos padrões e fugindo do novo. Uma astróloga cármica leu meu mapa e disse: “Você tem Sol, Mercúrio, Marte, Urano e a cabeça do dragão no signo de Escorpião, na casa de Aquário. Seus planetas são bem claros, eles não aceitam velharias!”. O Joel falou: “Seu desafio é mudar, se transformar, se desapegar, renascer”. Fácil, não?

Vocês já repararam como todo Escorpião tem uma dificuldade imensa de mudar? É sistemático, apegado, fixo. Justamente porque esse é o desafio do bicho, e não sua maior facilidade! A vida irá, dolorosamente, proporcionar-lhe inúmeras mortes e renascimentos, justamente pra ensinar ao danado que nada é para sempre, que tudo é cíclico, que tudo se transforma, mas que o espírito nunca morre.

E o Aquário e a casa 11, onde entram nesta história? Aquarianos são seres muito inteligentes, mas têm uma dificuldade: se entregar, mergulhar de cabeça, sentir até os ossos, algo que estaria mais ligado à tarefa de escorpião. Vivem olhando para o futuro, e às vezes se esquecem de viver o presente e de considerar a importância do passado. Além disso, são teimosos, rebeldes sem causa, adoram botar tudo abaixo. Eu confesso que tenho uma verdadeira paixão por tudo isso. Aquário também traz renovação, mas precisa aprender que só vale a pena destruir se for para reconstruir depois, usando sua criatividade. Deve aprender que um futuro diferente só se constrói após limparmos a sujeirada do passado, algo que só pode ser feito no tempo presente. E deve ser isso que Escorpião, junto ao ascendente em Capricórnio, tem para me ensinar. Também nunca tinha entendido bem esse ascendente em Capricórnio, e quase chorei quando descobri que tinha o bode assim, tão em destaque no meu mapa. Tinha a maior implicância com os capricornianos, achava uma galera chata, sem graça...hehe, Jung explica! Mas em meio a aquários e escorpiões, alguém tinha que vir para colocar ordem nesse caos.

Ontem, na aula de yoga, a professora estava intrigada, pois eu estava tendo dificuldades em fazer uma mini saudação ao Sol. Estava toda atrapalhada, enquanto fazia outros movimentos e posturas com mais facilidade. Ficamos conversando sobre o significado disso, já que cada postura trabalha determinadas questões físicas e emocionais, quando ela me perguntou: “Por acaso você tem uma falta de flexibilidade em relação à vida?” E eu disse: “Siimmmm!! . E ela: “Então está explicado”.

A mudança sem flexibilidade certamente se torna mais difícil! Mas a rigidez nada mais é que a defesa do medo. É que às vezes não é fácil dar boas vindas  ao escorpiônico Sol que ilumina as trevas e dizer: “Pode chegar, arrebente com tudo, apodreça tudo o que é velho, vamos acolher a morte, entregando a ela tudo o que não serve mais às forças da vida”. Dá um medo de que no final não sobre nada. Deve ser por isso que tanta gente teme o Escorpião. Ter seus cantos mais obscuros iluminados por esta luz denunciadora não é mesmo nada agradável. Com isso, não quero dizer que meu desafio é mais difícil que o dos outros signos. Obviamente, para mim só é mais difícil porque é o meu.

Na casa onde eu morava com meus pais lá no interior, quando criança, tinha um sótão enorme, entre o teto e o telhado da casa. Não sei como se chama isso, deve ser forro, ou algo assim. Para entrar ali, havia um pequeno alçapão, e meu pai sempre me fazia subir por ele quando queria achar alguma coisa, já que eu sempre fui pequena (e naquela época era bem leve também!), e entrava e saia dali com a maior facilidade. Eu confesso que embora tivesse um pouco de medo, me orgulhava de ser responsável por aquela missão. Ao mesmo tempo que me assustava, instigava minha curiosidade e me deixava vaidosa por só eu poder entrar naquele lugar escuro e saber de todas as velharias que estavam guardadas ali.

Acredito que a missão de Escorpião, com a qual tenho entrado mais conscientemente em contato nos últimos tempos, seja algo bem parecido com isso. Entrar nos sótãos da alma, iluminar a escuridão, encontrar a sujeira, a velharia, os ratos e as baratas, mas sem jamais se apegar ou se identificar com tudo isso. Outro desafio, é saber silenciar e guardar segredo sobre o que foi encontrado, pois nem tudo o que se encontra no sótão é bonito ou bom de se olhar, e poucos são os que desejam ter sua sujeira exposta por aí. Olhar o sótão escuro, mas extrair dali apenas o que ainda pode ser aproveitado, transformado, renovado, lembrando de depois olhar para a frente e seguir em direção ao futuro, como bem ensina Aquário. O que já apodreceu, eliminar, entregar para a terra capricorniana, pois só a força do tempo e a sabedoria da nossa Grande Mãe, em seu ventre escuro, tem o poder da transmutação total.

Seguirei me esforçando na saudação...a reverência sempre há de ser um bom caminho!