quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Grande Jaguar, a Serpente Emplumada e o Guerreiro Beija-Flor ou... O retorno das tribos estelares





Não nos iluminamos imaginando figuras de luz, mas sim tomando consciência das próprias trevas.

C. G. Jung






          Para os Maias, a Via Láctea, ou seja, nossa galáxia, representava a Grande Mãe Cósmica, a partir da qual toda a vida nasceu. O seu centro representava para eles o útero cósmico.

        No interior do centro galáctico existe uma região escura de pó e nuvens, semelhante a um corredor escuro, conhecido atualmente por Dark Rift, ou Fenda Escura, e que era denominada pelos maias de Xibalba Be, ou Caminho Escuro.

        No dia 21 de dezembro de 2012, o Sol se alinhará com um ponto no fundo desta Fenda Escura, o que dará a impressão de estar nascendo a partir dele, como se este se tornasse um "Canal de Nascimento Galáctico".

         Será como se o Sol nascesse de novo do útero cósmico, e por isso os Maias escolheram esta data como o fim de seu calendário e o início de uma Nova Era. Para eles, este alinhamento representaria o ponto zero no relógio cósmico, marcando o início de um novo período evolucionário.

         Porém, antes do dia 21 de dezembro, passaremos por outros eventos cósmicos importantes, também assinalados no calendário Maia. O primeiro ocorrerá no dia 20 de maio, quando a Terra, o Sol e a Lua estarão alinhados com o chamado Sol Central, a estrela Alcyone na constelação das Plêiades e também com o centro da nossa galáxia (Via Láctea), durante um eclipse solar.

         Em termos espirituais e energéticos estaremos recebendo a luz/informação/consciência vinda do centro da galáxia e do Sol Central pleiadiano, que nos será retransmitida através do nosso Sol e da nossa Lua. Esta poderá ser uma espécie de preparação para o grande alinhamento com o centro da galáxia, para o renascimento a partir do útero cósmico. Primeiro nos alinharemos e nos conscientizaremos do nosso Sol Central nas Plêiades e depois com o centro da própria galáxia. Em termos simbólicos, isso representaria uma enorme expansão da consciência para a humanidade, ou pelo menos para aqueles que forem capazes de se sintonizar com esta elevada vibração..

         O segundo evento cósmico que está prestes a acontecer é a conjunção exata entre o Sol e Vênus, nos dias 05 e 06 de junho.

        Vênus iniciou dia 16 de maio seu movimento retrógrado através do signo de Gêmeos. A retrogradação (fenômeno em que temos a impressão de que o planeta está "caminhando para trás") durará até 27 de junho, quando o astro retomará seu movimento direto, rumo ao signo de Câncer.

     Vênus, também conhecida como "Estrela da Manhã" ou "Estrela da Tarde", foi um planeta muito estudado pelos Maias, que basearam todo o seu calendário na sua movimentação. Sua órbita ao redor do Sol dura 224 dias e 3/4, e ao longo do período de 9 anos, Vênus descreve ao redor da Terra uma perfeita estrela de cinco pontas, tocando a cada um ano e oito meses uma ponta da estrela. Agora, dia 05 de junho de 2012, em sua retrogradação, tocará outro ponto da estrela, no signo de Gêmeos e na Constelação de Touro. O pentagrama é o símbolo da Divina Proporção, do Homem Universal, dos cinco elementos, da proteção e da perfeição. Invertido, representa o mal, o demoníaco, o imperfeito. Vejam o desenho abaixo:








            Neste dia 05 de junho, Vênus estará fazendo uma conjunção exata com o Sol, ou seja, aos nossos olhos, estará “mergulhando  e se fundindo a ele”. Para os Maias, Vênus era o representante de sua divindade Quetzalcoatl, a Serpente Emplumada, um Ser de profunda sabedoria e bondade, um Ser Crístico que veio à Terra ensinar a humanidade e por ela se sacrificou, voltando à sua terra natal e prometendo retornar em nossos corações, para que conhecessemos o Amor em seu mais profundo significado. Para a nossa astrologia ocidental, Vênus é o planeta do amor, da graça, da beleza e da bondade. De acordo com os Maias, essa conjunção de Vênus com o Sol, na constelação de Touro (embora no signo de Gêmeos), representaria o  “ Retorno de Quetzalcolatl”.

Para os maias e os astecas, Tezcatlipoca e seu irmão gêmeo, Quetzalcoatl, juntos, criaram o universo.  Tezcatlipoca é a divindade associada à noite, ao norte, ao frio, a escuridão. Carrega consigo um espelho negro, de obsidiana, e nele nos mostra nossos, defeitos, fragilidades, nossa sombra, a  fim de exterminar nossa arrogância e  egoísmo. Assim, nos ajuda a subjugar o ego, através da autoconsciência, para que possamos ascender aos planos espirituais. Tezcatlipoca e Quetzalcoatl são níveis de consciência, e ambos habitam dentro de nós. Tezcatlipoca vive em nosso subconsciente, representando nossa parte obscura, enquanto Quetzalcoatl representa a supra consciência, a luz que nos habita, o Cristo em nós. Vênus e o simbolismo do pentagrama estão associados a estas duas divindades inseparáveis que vivem dentro de nós.

Tezcatlipoca é o  Ego, a Sombra, o Inconsciente, a Escuridão, o Iniciador da consciência,  a penumbra que precisa existir para que tenhamos consciência da Luz. È o erro, o submundo, as paixões e os desejos frustrados. È representado pelo jaguar que habita a montanha. È a sombra que precisamos aceitar e integrar para que possamos nos fundir à luz da consciência. È o grande tentador, o que incita as perversões, para nos testar e levar ao autoconhecimento. É o sol negro que habita em cada um de nós.

Seu irmão gêmeo é Quetzalcoatl,  a sabedoria e a luz, que não podem ser alcançadas antes de termos passado por Tezcatlipoca. É a pureza, a consciência iluminada, a consciência solar, livre dos grilhões, vícios e apegos do ego. È a beatitude e a consciência mística, a união do mortal e do divino, do homem e do deus, representado pela Serpente Emplumada que levanta vôo, ascendendo aos céus. É a consciência obscura que desce aos abismos da mente, conhece a si mesma e é iniciada nos templos interiores pelo grande jaguar Tezcatlipoca, o portador da Luz, entendendo e integrando em si a experiência do bem e do mal e alcançando a sabedoria transcendente.

Tezcatlipoca, o grande jaguar, nos dá o dom do livre arbítrio, o conhecimento e a sabedoria que vem com os erros, e sem ele é impossível o despertar da consciência. É através de seu espelho negro de obsidiana onde se refletem nossos erros, desejos, sentimentos, que encontramos nossa verdadeira força e conhecemos nosso verdadeiro rosto, e é só através dele que podemos chegar à Quetzalcoatl, pois sem o conhecimento da escuridão jamais poderíamos ter consciência da luz. Tezcatlipoca e Quetzalcoatl são os dois lados da mesmo moeda,  os gêmeos inseparáveis que habitam nossa consciência.

A conjunção que ocorrerá entre o Sol e Venus, nos dias 5 e 6 de junho, para a sabedoria maia, representa o retorno de Quetzalcoatl, e a consciência destas duas polaridades dentro de nós. A Luz do Sol, representando a consciência, iluminará Vênus, representante de Quetzalcoatl, nossa luz crística. Porém, como ninguém chega a Quetzalcoatl, sem antes passar por Tezcatlipoca, o grande Jaguar,  este alinhamento poderá, antes de nos mostrar nossa amorosa luz, nos colocar diante das nossas sombras, medos, defeitos, para que aceitando e perdoando nossa escuridão possamos integrar a luz.

A amorosa energia Crística de Vênus vem nos trazer cura, mas para que um organismo se cure, antes ele precisa purgar os venenos e impurezas que o estão adoecendo.

Uma outra divindade que estará representada nos eventos cósmicos de 2012 é Huitzilopochtli. Será este Deus Solar, grande guerreiro das estrelas, que segundo a sabedoria dos antigos maias e astecas, no dia 21 de dezembro de 2012, ao final do grande ciclo, nos conduzirá a uma nova era de amor, paz, serviço e humildade.

Huitzilopochtli é simbolizado por um beija flor, e por ser um guerreiro solar, representa a  batalha que ocorre dentro de nós, e a capacidade que temos de vencer a nos mesmos, nossos vícios, defeitos, paixões. Representa o renascimento, já que o beija flor dorme e se renova durante o inverno, quando perde suas penas, renascendo na primavera. Huitzilopochtli é filho da Virgem Coatlicue, e também um representante da consciência Crística,  o Mensageiro Colibri, o Guerreiro e Logos Solar.

De acordo com a mitologia dos maias e dos astecas, o surgimento da consciência de Huitzilopochtli dentro de nós representaria a Vitória do Guerreiro Solar, da Luz sobre as trevas, da consciência sobre a inconsciência, após um período de intensas batalhas interiores.. Representaria a transcendência da dualidade de Quetzalcoatl e Tezcatlipoca, o renascimento de uma consciência unificada, de uma nova humanidade e o início de um tempo de amor e paz.

Que assim seja!





Abaixo, uma animação mostrando o trânsito de Vênus e sua conjunção com o Sol na constelação de Touro:



 



quarta-feira, 2 de maio de 2012

Lilith e os encantos da Lua Negra





“Porque eu sou a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços de minha mãe
Eu sou a estéril, e numerosos são meus filhos
Eu sou a bem-casada e a solteira
Eu sou a que dá a luz e a que jamais procriou
Eu sou a esposa e o esposo
E foi meu homem quem me gerou em seu ventre
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã de meu marido
E ele é o meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a discreta.”

Hino a Ísis, escrito no sec III ou IV a.C., descoberto nos manuscritos de Nag Hammadi, em 1947.



Deliciosamente inspirada pela conjunção que acontece neste momento entre o Sol, Lilith e Júpiter em Touro, na quinta casa do meu mapa, resolvi falar um pouco esta deusa marginalizada. 

           Mesmo antes de conhecer sua história, Lilith já me despertava medo e curiosidade. Sempre que alguém pronunciava esse nome eu identificava as mais variadas correntes de sentimentos por trás da palavra: medo, raiva, desprezo, respeito, prazer, desejo, inveja. Com o tempo  e os estudos de astrologia e psicologia, comecei a compreender melhor este mito tão controverso.

Eu gosto bastante da psicologia junguiana, mas gosto ainda mais da astrologia, pois na astrologia, através do posicionamento dos signos e  planetas, podemos identificar de forma prática, quase concreta, como, de que forma e em quais áreas certos mitos e arquétipos se manifestam com mais intensidade em nossas vidas. Não foi à toa que Jung se interessou e dedicou tanto tempo ao estudo dos astros. A astrologia pode ser vivida, sentida na pele, e é na pele que a gente começa a compreender de verdade.

Na mitologia hebraica, Lilith foi a primeira mulher de Adão, criada por Deus a partir do barro, antes da existência de Eva. Era linda, independente, inteligente e justamente por isso, se recusou a submeter-se a Adão. Achava que por ter sido criada por Deus da mesma forma e com o mesmo material que seu companheiro, tinha direitos iguais aos dele, por isso, no ato sexual, insistia em  também poder ficar por cima, mas Adão não concordava com essa atitude. Um dia, então, Lilith se rebelou e foi embora, abandonando-o enquanto dormia. Ao despertar, Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith. Este,  para consolá-lo, criou Eva, a partir de sua costela, dando a ele uma esposa dócil e submissa.

Exilada do Paraíso, Lilith mergulhou no Mar Vermelho, tornando-se maldita (maldita é a mulher que ousa não se submeter, que ousa contrariar os desejos do seu homem!), uma criatura das trevas, geradora de demônios que instigavam os desejos dos humanos. Por motivos óbvios, nunca gostou muito de Eva , e passou a odiar tudo o que se relacionasse a ela: marido, filhos, casamento, família, submissão, tornando-se uma “força destruidora”.

Seu simbolismo está ligado ao inconformismo, à revolta inerente ao ser humano, que quer sempre mais, mesmo aquilo que não pode ter. Representa o que nos move, aquilo que nos seduz, assim como os desejos gritantes, às vezes insatisfeitos, que geram ressentimentos, desesperos, auto-traições. Lilith nos fala sempre da nossa conexão com o desejo, os instintos, o lado sombrio da vida (sombrio no sentido de “não consciente”), assim como das armadilhas e do crescimento em que implicam. De acordo com Jung, o despertar de Lilth pode ser trágico para uma pessoa despreparada, mas é uma prerrogativa à individuação.

A história desta mulher rebelde, independente, dona dos próprios desejos, é contada de várias formas, nas mais diversas mitologias. Na mitologia egípcia, associa-se a Ísis, divindade lunar. Nos mitos gregos podemos vê-la se manifestar através de Hécate, a deusa da Lua e da magia, rainha das encruzilhadas, do nascimento, da vida e da morte, dos encantamentos e do destino. Hécate tem três faces, e cada face representa um caminho que podemos seguir diante das encruzilhadas da vida. Simboliza os momentos de escuridão e a busca da luz interna, a procura pela jornada do espírito e os desafios do caminho.

Lilith tem o poder de castrar ou de iniciar, de conferir poder ou estagnação. Com sua magia, toca de maneira singular a superfície e as profundezas. Sua influência é ao mesmo tempo sutil e avassaladora. Lilith, diferente de outras deusas femininas, não evoca a relação, e sim a separação, em nome de um resgate,  da busca pela individualidade e pela individuação. Sua oposição a Eva sugere  a dependência apenas de si mesma, de sua força, sua magia. Seu poder de co-criar está nela mesma e não se apoia em referenciais externos e nem em relacionamentos. O resgate deste arquétipo, é portanto, um ponto crucial com o qual nos deparamos várias vezes na vida – é a encruzilhada, são as escolhas, o deparar-nos com nossos próprio desejos - , são os momentos em que nos desligamos do que nos dá a ilusão da segurança, e seguimos rumo ao desconhecido. É também a solidão e o desolamento que tudo isso gera e a experiência de clarificação, de reestruturação dos nossos valores através da caminhada pelo deserto interior, assim como a reconquista do nosso poder e da nossa plenitude pessoal.


            Na astrologia, Lilith dá a volta no zodíaco em 9 anos, e seus trânsitos sempre anunciam acontecimentos e tempos difíceis. Podemos saber em quais setores dependendo de onde ela se encontrar no nosso mapa astral. Por onde ela passa, provoca crises, questionamentos, excessos, transbordamentos de questões reprimidas, nos mostrando o que precisamos vivenciar, desejos que precisamos realizar para que nossa evolução possa prosseguir. Lilith em astrologia é também chamada de Lua Negra, pois é um ponto que absorve tudo, nada pode resistir à sua ação. É o nada, o vazio, a ausência de luz,  o buraco negro que precisa ser preenchido, o desejo que precisa ser saciado, a energia que precisa se manifestar e ser canalizada.

Dependendo do signo e da casa onde se encontra no mapa, Lilith revelará uma tomada de consciência necessária, inevitável, que pode acontecer através de circunstâncias ou acontecimentos trazidos pelo “destino” (ou por nosso próprio inconsciente). Indica também um ponto onde não nos satisfazemos com pouco, onde temos uma fascinação extrema, onde buscamos a verdade última, o absoluto, a autenticidade, a lucidez, a elevação da consciência, uma tendência a ir até o fim, até as últimas consequências. Ou um medo absoluto, uma recusa total.

No mapa astral de um homem, sua posição nos fala sobre o que Jung chamava de anima, ou seja, sua imagem de mulher ideal, assim como o componente feminino de sua personalidade. No mapa de uma mulher, dá indicações sobre seu animus, ou seja, sua imagem de homem ideal ou componente masculino de sua personalidade.

O mito de Lilith está ligado também aos triângulos amorosos, representando “a outra”, “a amante”, ou “o outro”, “o amante”. Lilith é o instinto, a sensualidade, e  só por isso muitas vezes associa-se ao nosso pior, pois este é um lado que geralmente reprimimos, e que se transforma em crueldade, pornografia, vergonha. Lilith é a que seduz, é auto-suficiente, auto-erótica, não precisa necessariamente do outro para sentir prazer. É nosso lado instintivo, nossa libido, nossa busca por autonomia, nosso intinto de sobrevivência, nossa busca por prazer e por autenticidade. Fala de nossos pontos sensíveis, vulneráveis, onde estão nossas fraquezas e por isso também o potencial para nossas maiores forças. Lilith é nosso lado Divino, que por algum motivo reprimimos, desprezamos, banimos para as sombras, e que necessita ser acolhido, reintegrado, a fim de nos devolver o prazer e a alegria de viver.