segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Pinheirinho, a parábola e os trânsitos planetários



Lendo as matérias sobre a desocupação e reintegração de posse do terreno do Naji Nahas no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, fui olhar a configuração astral e lá estava: Saturno e Júpiter em oposição  fazendo quadraturas com o Sol e a Lua em Aquário, gerando uma energia de forte tensão, repressão e conflitos com “autoridades”. Marte em oposição a Urano em Áries, gerando uma energia de revolta, turbulência, violência,  propensão a tiroteios e incêndios. Mas o que mais me intrigou foi uma frase que não parava de martelar  minha cabeça: “Porque a todo o que tem  lhe será dado e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”

Para que não pensem que sou carola, crente, pastora ou coisa do gênero, já vou logo dizendo: não me considero católica ou de qualquer outra religião, apesar de ter sido batizada e até feito primeira comunhão na igreja. Isso não impede que eu goste e me interesse bastante pela figura de Jesus (e também pelos orixás da Umbanda, por Buda, pelos deuses do hinduísmo, enfim...). Sendo assim, não tenho o hábito de ler a Bíblia por isso não sabia a que se referia a tal frase, então fui pesquisar. Foi aí que me deparei com a parábola dos talentos, e relembrei a história que me havia sido contata nos longínquos tempos das aulas de catecismo (que, diga-se de passagem, eu detestava e só fiz mesmo para agradar meus avós, católicos fervorosos). A parábola é a seguinte:

“Um homem, tendo que viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu. Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois. Mas o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.
Muito tempo depois, o senhor daqueles servos voltou e pediu-lhes contas. O que recebeu cinco talentos, aproximou-se e apresentou mais outros cinco: “Senhor, disse-lhe, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco que ganhei”. Disse-lhe seu senhor: “Muito bom, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor”. O que recebeu dois talentos, adiantou-se também e disse: “ Senhor, confiaste-me dois talentos, eis aqui os outros dois que lucrei”. Disse-lhe seu senhor: “Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor”.
Veio por fim o que recebeu só um talento: “Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso tive medo e fui esconder seu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence”. Respondeu-lhe seu senhor: “Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei. Devias pois, levar meu dinheiro ao banco e, na minha volta, eu receberia com juros o que é meu. Pega este talento e dai-o a quem tem dez. Dar-se-á ao que tem e terá em abundância.mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter. E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores, ali haverá choro e ranger de dentes”. (Evangelho de Mateus, cap. 04, vers. 2-20)

Na sequência, aproveitei o embalo para ler também a parábola do semeador, e qual não foi minha surpresa quando de novo me deparei com a mesma frase! A parábola é essa aqui:

“Naquele dia, Jesus saiu e sentou-se à beira do lago. Acercou-se dele porém uma tal multidão, que precisou entrar numa barca. Nela se assentou enquanto a multidão ficava á margem. E seus discursos foram uma série de parábolas.
Disse ele: “Um semeador saiu a semear. E semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho; os pássaros vieram e a comeram. Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra, e nasceu logo porque a terra era pouco profunda. Porém, logo que o sol nasceu, queimou-se, por falta de raízes. Outras sementes caíram entre os espinhos: os espinhos cresceram e a sufocaram. Outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um. Aquele que tem ouvidos, ouça”.
Os discípulos aproximaram-se dele então para dizer-lhe: “Por que lhes falas em parábolas?”. Respondeu Jesus: “Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. Aos que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem. Eis porque lhes falo em parábolas: para que vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam. Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: “Ouvireis com vossos ouvidos e não entenderei, olhareis com vossos olhos e não vereis, porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda, para que não se convertam e eu os sare”. Mas quanto a vós bem aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem! Eu vos declaro em verdade: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não o viram, ouvir o que ouvis, e não ouviram.
Ouvi, pois, o sentido da parábola do semeador: quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende, o maligno vem e arranca o que foi semeado no seu coração. Este é aquele que recebeu a semente à beira do caminho, mas o pássaro a comeu. O solo pedregoso em que ela caiu é aquele que acolhe com alegria a palavra ouvida, mas não tem raízes, é inconstante: sobrevindo uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, logo encontra uma ocasião de queda. O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa aquele que ouviu bem a palavra, mas nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutífera.  A terra boa semeada é aquele que ouve a aplavra e a compreende,  e produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um”. (Evangelho de Mateus, cap.13, vers. 1-23)


Ao final da leitura, eu estava arrepiada dos pés à cabeça. E pensar que eu achava que a tal frase e também a frase do choro e ranger de dentes estavam no Apocalipse de João, tamanho o terror que sempre me causaram.  Li e reli as benditas parábolas, pensando: se o cara era mesmo o Deus encarnado que todos dizem, ele não haveria de ser assim tão cruel, achando bonito castigar o servo ignorante e tomando o pouco que o sujeito ainda tinha, então, deixe-me tentar abrir meus olhos para ver...

Cismada com o fato de tais palavras terem surgido de repente, dos porões do meu inconsciente, numa associação imediata ao episódio ocorrido em São José (veja bem, não era esse o nome do pai da cara aqui na Terra?), pensei: “Virgem Maria, isso deve estar querendo me dizer alguma coisa”, e comecei a matutar. Parece que é exatamente isso o que está acontecendo com a humanidade neste momento, não? Os que tem muito (banqueiros, "governantes" governados pelos banqueiros, Naji Nahas, grandes corporações e afins) estão ganhando cada vez mais, enquanto dos que não tem, o pouco que lhes resta está sendo retirado  (moradores do Pinheirinho, famintos da África, etc). Seria o tal Deus assim tão cruel? Bom, dizem as escrituras que não, e que ele até mandou o filho dele pra nos ensinar, mas o raio do cara só falava por parábolas e faz dois mil e doze anos que nós estamos tentando entender o que ele disse.

Mas peraí, na parábola dos talentos tá dizendo que o cara perdeu tudo que tinha porque não cuidou, não trabalhou, foi preguiçoso, mas os caras do Pinheirinho e os africanos não fazem outra coisa senão trabalhar.... tem alguma coisa que não bate nessa história. Ou o tal do Jesus tava tirando onda com a nossa cara? Bom, acho que não, né, vamos dar mais uma chance pro rapaz. O problema dos caras do Pinheirinho é que por mais que eles trabalhem, não terão como fazer os seus “talentos” renderem. Afinal de contas, assim funciona o sistema capitalista: muitos ralam para que poucos ganhem. Na parábola, Jesus, que já naquela época estava espertinho e sabia bem como as coisas funcionavam, mostra o senhor falando pro cara: seu burro, só quem sabe fazer o dinheiro render são os banqueiros, se você tivesse dado o dinheiro na mão dos caras, eles tinham multiplicado e te devolvido com juros. Tá, ele esqueceu de falar mais umas outras coisinhas:  que os banqueiros ia usar o dinheiro, fazer mais um monte de grana a partir dele, e devolver os juros falando que fizeram a grana render horrores sendo que quem ficou com os verdadeiros lucros foram eles mesmos, mas vá lá, afinal de contas,  na outra parábola ele também diz que não adianta mesmo falar certas coisas pra quem não quer ouvir. Fala também que o único jeito de entrar no reino dos céus é tendo conhecimento, ou seja, sabendo como as coisas realmente funcionam. Não me lembro dele ter falado sobre certo ou errado, disse que é assim que funciona e pronto. Ou a gente fica esperto, entende o jogo e começa a jogar, ou vai acabar sem nada.

Porque como bem disse o profeta, nossos olhos foram fechados para que não víssemos, nossos ouvidos fechados para que não ouvíssemos, e nossos corações endurecidos, para que a gente não se cure, não se preocupe em melhorar e nem em ajudar os outros a melhorarem também.

No caso da atual situação da humanidade, acho que  a parábola não fala só de dinheiro, prosperidade e produtividade, embora seja em volta disso que gire nosso mundo, mas sim dos nossos verdadeiros “talentos” espirituais, que estão na nossa capacidade de pensar,  de adquirir consciência e conhecimento e de amar. Estes sim podem se multiplicar, independente da vontade ou da existência dos banqueiros. Porque só através do amor, da consciência e do verdadeiro conhecimento, que há tempos está sendo semeado para aqueles que querem ouvir, poderemos nos libertar deste inferno e adentrar o “reino dos céus”.

Tá, mas e o povo do Pinheirinho, e os africanos? Destes e de outros, foi tirado também o direito ao conhecimento. Pois é, e é por nós e por eles, que devemos  fazer frutificar nossos talentos-consciências, para que não sejamos servos maus, inúteis e negligentes, pois as trevas, o choro e o ranger de dentes sempre estiveram aí, e parecem estarem aumentando a cada dia. É por eles e por nós, que valeria a pena desligar um pouco nossas televisões, abrir nossos corações endurecidos e prestar mais atenção para saber o que de fato está de fato acontecendo ao nosso redor, ao invés de apenas nos perdermos nas ilusões, riquezas e fascinações do mundo. A nós, que como os apóstolos, temos um pouco mais de condições de obter conhecimento e consciência, cabe a tarefa de abrir os olhos para ver e os ouvidos para ouvir, e fazer alguma coisa para mudar tudo isso, pois os de fora, a quem, tudo está sendo ensinado por parábolas, a quem estão sendo contadas historinhas infantis, e que vendo não percebem, ouvindo não entendem, talvez por ora não tenham muitas escolhas ou estejam impossibilitados de lutar. Nós temos a obrigação de fazer frutificar nossos talentos-consciências, de acordar e abrir os olhos, deixando para trás a ilusão de que nada disso é problema nosso, pois somos todos um, e mais cedo ou mais tarde a merda cairá sobre  nossas cabeças.

Óbvio que essas parábolas são muito mais profundas e contém muito mais conhecimentos do que só isso que estou escrevendo aqui, afinal de contas, eu não tenho a sabedoria dos apóstolos. Mas muito me impressionaram as palavras do profeta Isaías, pois me pareceram incrivelmente atuais: “taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda, para que não se convertam e eu os sare”. Não seria isso o que faz a mídia, o que fazem as propagandas, a televisão ou certas religiões? Quantos absurdos estão acontecendo aqui, bem na nossa cara, mas nós não conseguimos ver (por estarmos hipnotizados pelo BBB, pela novela ou por outras idiotices da TV) ou não queremos ver (porque o coração endureceu)?

E para quem não se interessa pela Bíblia, parábolas ou Jesus, os trânsitos planetários também estão aí para nos alertar. Plutão em Capricórnio vem nos mostrar a necessidade de uma melhor  administração e distribuição dos recursos do planeta, Urano em Áries vem incitar nossa rebeldia para que possamos lutar por independência e autonomia, Netuno em Peixes vem abrir nossos corações para que tenhamos compaixão, uma maior espiritualização e a compreensão de que tudo está interligado e que somos todos parte de uma única humanidade. Júpiter em Touro vem despertar a consciência da abundância e a percepção de que todos tem o direito de viver com dignidade , Saturno em Libra nos fala sobre a necessidade do equilíbrio e a justiça nas relações. Logo mais Júpiter em Gêmeos virá mostrar a importância do livre trânsito das informações e do acesso ao conhecimento. E para fechar o ano, chegará Saturno, o disciplinador,  aquele que vem com a foice colher o joio e o trigo plantados, iniciando um trânsito por Escorpião,  filho de Shiva , o destruidor das ilusões, e então só Deus sabe o que poderá nos acontecer.

A forma como todo esse aprendizado se dará só vai depender da gente. Se decidirmos acordar, receber a semente, semear, multiplicar os talentos,  fazer a nossa parte, pode ser que colhamos beleza e abundância no final. Mas, como neste planeta geralmente se aprende mais na base da dor do que na base do amor, é bom estarmos preparados para as trevas, o choro e o ranger de dentes.

4 comentários:

  1. Belo texto, Lu, acho que a lógica do dar mais a quem tem mais é uma premiação não tanto ao esforço, mas ao aprendizado de dar valor à matéria, aos recursos dos quais precisamos. É crescer e fazer crescer, cumprindo nossa parte na grande Roda da Vida. É complicado quando olhamos a aplicação prática, pois soa como absolutamente cruel, mas tem uma lógica espiritual nessas passagens que premia o aprendizado. Temos muito a aprender de fato.

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    1. Com certeza, concordo com você, Cla. É que me parece que o que tá rolando aqui no planeta é tudo, menos espiritual, no sentido mais elevado da palavra. Lógico que o Homem sabia o que tava falando, mas o lance é que, em termos coletivos, tanto faz se o cara dá ou não valor pro que tem, pois será explorado de qualquer forma. Minha argumentação é no sentido de uma tomada de consciência individual, que possa se expandir ao coletivo, de que enquanto permitirmos essa exploração, através da omissão ou da alienação, nada vai mudar, pois estamos fazendo a mesma coisa que o tal servo preguiçoso.

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  2. Eu li no domingo esta parábola dos Talentos e interpretei no sentido dos dons que recebemos e não fazemos render nem multiplicamos...

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  3. Sim, acho que os significados são muitos, muitos mesmo. É que como ela ficou martelando bem no momento em que estava lendo as matérias sobre o Pinheirinho, achei que devia refletir em relação a este assunto.

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