sábado, 28 de janeiro de 2012

Eu queria ser um cachorro amarelo


Eu queria ser um cachorro amarelo. Daqueles bem vira-latas. Assim, eu seria dona da rua, do mundo, dona de mim. Andaria abanando meu rabo pelas manhãs iluminadas, sentindo meus pelos maltratados refletirem a luz do sol, sem maiores preocupações.

Não conheceria os prazos, as cobranças, não teria hora marcada. Passearia pelas ruas farejando o mundo com meu focinho curioso, conhecendo diferentes tipos de cheiros, me maravilhando com as infinitas possibilidades de combinações olfativas que meu nariz com rinite nunca imaginou existirem. Com minhas quatro patas e meu andar rebolativo, sorriria para tudo e para todos, mesmo tendo uma ou duas pulgas atrás da orelha. Teria a confiança e a coragem dos que nada possuem, sabendo que o mundo me proveria.

Há quem diga que os cachorros não enxergam cores, mas os humanos podem ver tantos tons e matizes, e ainda assim, vivem vidas em preto e branco. Eu me deliciaria com minha audição aguçada, manteria minhas orelhas em pé e seguiria farejando cada canto da existência. Dizem também que os cachorros comem excrementos, mas a qualidade do que comemos muitas vezes não é muito melhor nem mais saudável que isso. E sendo um bom vira lata, pelo menos eu nunca precisaria comer ração.

Eu queria ter a espontaneidade, a leveza e a malícia dos cães sem dono, viver sabendo que niguém esperaria nada de mim, pois as pessoas não esperam nada de vira-latas amarelos. Na minha amarela viralatice eu andaria saltitante por aí, brincando com as crianças, correndo atrás das borboletas e dos passarinhos, dando umas mordidas quando necessário, sendo acariciada por muitos, mas sem ser propriedade de ninguém.

Se eu fosse um cachorro amarelo, teria o coração puro e um brilho doce no olhar. Conviveria bem com meus instintos, viveria no presente, não lamentaria o passado. Teria uma memória curta, por isso não conseguiria guardar mágoas ou rancores, amaria incondicionalmente.

Eu queria ter a alegria ensolarada dos cachorros amarelos. Amar sem expectativas, lambendo a mão de quem me alimentasse, num gesto de profunda gratidão. Tomar chuva e sacudir os pelos para me secar, espalhando meu cheiro de cachorro molhado, com a inocência de quem não se preocupa com a opinião alheia. Eu queria fazer xixi nos postes,  marcar meu território de esquina em esquina, tendo a certeza de que qualquer lugar no mundo poderia ser meu.

Eu queria ter a liberdade dos vira latas, dormir sob as estrelas, uivar para a lua cheia, correr com as orelhas ao vento, tomar banho no mar ou nos rios a qualquer hora do dia, qualquer dia da semana.

Ter a simpatia e a cara de pau dos cachorros amarelos, que não têm medo nem orgulho de pedir o que necessitam. Queria saber colocar o rabo no meio das pernas e abaixar as orelhas, num pedido de desculpa. Ou fazer cara de cão que caiu da mudança para ganhar um carinho.

 Ah, como eu queria ser um cachorro amarelo.





Obs: hoje eu fiquei com preguiça de falar  de astrologia, pois só conseguia pensar na uraniana liberdade dos cachorros amarelos....

4 comentários:

  1. aaaaaaaaaaah, que lindoooooooooo, eu tenho uma cachorra amarela *-*

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    1. Siiiiimmmm, hehe, na verdade vc tem cães de todas as cores, não? bjs

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  2. esse post me lembrou essa foto q fiz lah na dona ivanilde, qdo vc, andreia e eu tomavamos alguma coisa e comiamos calabreza acebolada gordurosa, boa pra caramba!
    http://anaglyphy.blogspot.com/2006/03/dog-style.html

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    1. Olha, que legal, muito fofo esse dog. Haha, não sei se a calabreza era boa ou se a gente que tomava cerveja demais!! beijooo

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