terça-feira, 20 de março de 2012

All we need is love: um lar para Osvaldo





Sábado fui com minha irmã Andréa no Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo. Estava tendo uma feira de adoção,  há tempos ela queria adotar um cachorro, e achou que esta seria uma boa oportunidade. Fomos eu, ela e o João, nosso irmão.

Chegando lá, pensei que não fosse aguentar. O barulho dos latidos era ensurdecedor, além do cheiro não ser lá essas coisas, pois havia mais de 500 animais em exposição, entre gatos, cachorros e cavalos. Mas o que mais impressionava era a visão de tantos bichos abandonados, tristes e carentes. Alguns tinham sido tão maltratados, que tremiam com a mera aproximação de um ser humano.

 Porém, com o passar do tempo, os ouvidos, o nariz e o coração vão se acostumando e a gente começa a se dar conta de uma outra realidade. A de que existem pessoas que realmente se importam com os animais e trabalham ali por amor e com a máxima dedicação. O Caio, que foi o moço que nos ajudou, e a outra mocinha que infelizmente esqueci o nome, e que está se preparando para entrar na faculdade de veterinária no ano que vem, foram super atenciosos e nos deram uma verdadeira aula de humanidade e cidadania.

Foi neste clima que conhecemos o Osvaldo, que naquele momento ainda se chamava Mickey. O Caio foi até a gaiola e nos mostrou o vira-lata, que embora simpático, parecia um tanto arredio. Minha irmã foi com o focinho dele logo de cara e logo decidiu levá-lo para casa, dando início ao processo de adoção. Como marinheiros de primeira viagem, chegamos lá de mãos abanando, pois não sabíamos que era necessário levar coleira, comprovante de residência e outras documentações. Mas ainda assim, o Caio, que a partir de então se encarregou do processo, fez de tudo para facilitar, pois queria de verdade encontrar uma família para o Mickey. Confessou que no princípio eles não eram muito chegados e que o cão não ia muito com a cara dele, até que um dia ele decidiu: “Vou ter uma conversa com esse cachorro!”. A partir de então, tornaram-se amigos.

Ao conversarmos com o veterinário, ficamos sabemos que a ficha do cão não era das mais limpas, e que ele tinha fama de traiçoeiro, hiperativo, latidor e mordedor. De fato, no primeiro contato, ele não se mostrou muito amigável, estava irritado, agitado, latiu e mostrou os dentes para todos os fotógrafos que vieram documentar sua adoção. Confesso que fiquei meio tensa, pensando em como tudo isso iria acabar. Mas minha irmã não parecia muito preocupada, e meu irmão foi imediatamente adotado pelo cachorro, como bem observou o veterinário.

Este veterinário, aliás, merece um parágrafo só dele. Um tipo de uns quase cinquenta anos, com o cabelo grisalho e brinquinho de argola na orelha esquerda, com uma cara de desconfiado e um comportamento que beirava a agressão: “As pessoas vem aqui, pensam que é festa., levam o bicho embora e depois voltam querendo devolver. Tenha a santa paciência, tão pensando que isso aqui é o que? Cada vez que vai embora um, entram cinquenta! Isso sem falar nos que abandonam na rua. O cara vem aqui, pega o bicho que já foi abandonado e abandona de novo! Mas agora, o bicho tem chip, é rastreado e a gente vai saber tudo o que está acontecendo com ele”. Para mim, a indignação do homem chegava a ser comovente, embora minha irmã tenha ficado com um pouco de medo achando que ele tinha cara de psicopata. Imagino quantos absurdos ele vê todos os dias, trabalhando naquele CCZ.

E foi assim que mais um vira-lata ganhou uma casa, uma família e um novo nome. O seu RGA já havia sido feito com o nome Mickey, mas a gente achou que ele tinha mesmo era cara de Osvaldo. Como foi adotado no dia de Saint Patrick, passou a se chamar Osvaldo Mickey Patrício Martins Dias e Silva. E lá fomos nós carregando o cão hiperativo de Santana até o Butantã, num calor danado e num trânsito dos infernos. A mim, coube ir no banco de trás, segurando o bicho, que não me parecia muito familiarizado com viagens de carro,  estava assustado e mega agitado. Vim conversando com ele, fazendo carinho e aos poucos ele foi se acalmando. Não curtiu muito o passeio de elevador, mas ao chegar no apartamento da minha irmã já foi logo se sentindo em casa e se espalhando no sofá da sala.

Não quero parecer aquelas tias velhas cachorreiras, que só falam de cachorro, ficam postando fotos e tudo mais (embora também não tenha nada contra), mas escrevo este texto por um motivo. O mais impressionante nesta história e o que me levou a escrever este texto, foi a mudança na personalidade do animal em tão pouco tempo. Ainda hoje comentei com a minha irmã: “Eu estou achando que ele fica mais bonito a cada dia”. Ela concordou e disse: “Impressionante a mudança no semblante dele, não?”.

 Tá, eu concordo, ele não é nenhum galã, mas tem aquela beleza interior típica dos vira-latas. Beleza esta que vai se revelando a cada dia. De cão hiperativo, traiçoeiro, latidor e mordedor ele se tranformou num bebezão carente, com um olhar doce, que adora brincar com sua bolinha, lamber nossas mãos e pular no colo da gente. Tudo isso para dizer o óbvio, mas do qual nos esquecemos todos os dias: que diferença faz um pouquinho mais de amor na vida da gente, né?

Não sei a hora que o Osvaldo nasceu, então não dá pra fazer o mapa dele, mas fiz o mapa da adoção: Sol em Peixes, Lua em Aquário e Ascendente em Câncer!  Ah, e também Vênus e Júpiter em Touro no meio-do-céu. Peixes indica amor incondicional, Câncer a necessidade de um lar e de uma família,  Aquário a disposição para a amizade e Touro um apreço especial por afagos e carinhos. Tudo a ver, não?


 Vejam a diferença: na primeira foto, Osvaldo no colo do João, tentando morder o fotógrafo. Na segunda, na casa da Andréa,  já totalmente adaptado.


4 comentários:

  1. AAAAAAAAAAHHHHHHHHHH JULIA ENTROU EM ÊXTASE COM ESSE TEXTO =')

    lu, nem preciso falar nd pra vc né, vc ja sabe ;)

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  2. Hehe, valeu Júlia! Aprendi muito com você, pode ter certeza. Um beijo!

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  3. Ele é lindo, adoro vira latas! TEnho certeza que ele vai agitar (para o bem) a vida de vocês, parabéns!

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