domingo, 12 de fevereiro de 2012

Cassandra, Netuno e o pileque homérico do mundo


Fogo! Tróia será incendiada! O cavalo de madeira é esconderijo dos gregos! Ela viu, ela falou, ela avisou, mas ninguém ouviu, ninguém acreditou. Esta era a sina de Cassandra de Tróia, a sacerdotisa que recebeu de Apolo o dom da profecia, mas por ter recusado se deitar com ele, foi castigada pelo deus com a maldição de que as pessoas nunca lhe dariam crédito.Quando ela predisse a derrota de Tróia, e também a desgraça que cairia sobre toda a sua família, os orgulhosos troianos, chefiados por seu pai, o Rei Príamo, persistiram em sua loucura, até serem derrotados e escravizados. Depois de ter sido acusada de louca, levada como presa de guerra, Cassandra ainda vislumbrou seu próprio assassinato, do qual também não pode escapar.

    Creio que existam muitas cassandras e cassandros perdidos por aí. Talvez seja esta a sina dos que tem um mínimo de sensibilidade, algo raro ultimamente. Dos que têm os olhos abertos para enxergar a insanidade destes nossos tempos, e que ousam proclamar aos quatro ventos que “o rei está nu”.

Ai, deixa de besteira, por que você se preocupa tanto? Credo, você está ficando chata. Nossa, você se impressiona demais com as coisas. Calma você está exagerando, relaxa, também não é assim! Ou...Mas o que é que eu tenho a ver com a pobreza na África? Ah, o bicho já tá morto, larga de frescura e come aí. Nossa, mas que poucos mandam no mundo e a gente  só obedece todo mundo sabe, isso é óbvio né? Qual o problema, sempre foi assim, sempre vai ser e a gente bem que aproveita as regalias do sistema, esquece essa culpa!

O problema é que o “óbvio” pode ocultar muitas coisas, e para enxergá-las, basta ter um pouco mais de profundidade e um pouco menos de hipocrisia, mas nem todos estão dispostos a fazer “tamanho esforço”. È mais fácil ridicularizar, desacreditar, criticar e seguir com sua vidinha, afinal de contas, pra que tanto radicalismo e tanta ingenuidade, não é mesmo?

Nestes dias netunianos, talvez por estar com a sensibilidade mais aguçada devido às influências deste planeta sobre a terceira casa do meu mapa – casa da consciência – eu ando ouvindo tantos absurdos, que prefiro acreditar no ditado que diz que é melhor ouvir certas coisas do que ser surda. Mas tem hora que tanta omissão, tanta hipocrisia e tanta insensibilidade doem na alma.

 Ah, mas são os mecanismos de defesa do ego, as pessoas se escondem, se defendem porque sofrem, e ninguém quer entrar em contato com a dor e o sofrimento. Verdade. È como beber para esquecer. Deve ser por isso que a música  Cálice, do Chico Buarque não me sai da cabeça esses dias: “esse pileque homérico do mundo, de que adianta ter boa vontade...”. As pessoas estão embriagadas, adormecidas, anestesiadas, e não sentem mais a própria dor e muito menos as dores do outro. Fingem que não é com elas. A questão é que, se continuarmos assim, diz a minha Cassandra interior, não sei se haverão muitas esperanças para nossa espécie. Fugir da dor gera insensibilidade e a insensibilidade gera ainda mais dor, num circulo vicioso e destrutivo, onde a cobra morderá eternamente o próprio rabo.

Eu, como boa cassandra escorpionina radical e ingênua, adoro uma teoria da conspiração. Dessas que falam que o mundo está nas mãos dos Iluminatti, que por sua vez, são manipulados pelos reptilianos (nossa, que louca, só faltava isso mesmo!), seres alienígenas destituídos de sentimentos. Mas minha ingenuidade talvez pare por aqui. Não sei se eles realmente existem, mas prefiro não ser preconceituosa e manter a mente aberta. Independente disto, na minha opinião, os reptilianos somos nós.  Não sei se alienígenas, mas certamente alienados. Preferimos agir com base apenas em nossos mais básicos instintos de sobrevivência, escolhendo reagir e lutar por nosso “território”, enxergando o outro como inimigo. Agimos apenas com base no ego e nos nossos próprios interesses, sem ter a consciência da Unidade e da harmonia.

Nós somos os répteis  na medida em que nos recusamos a acessar nossos sentimentos, a sentir a dor e a tristeza que carregamos por nossas emoções feridas, pisoteadas desde a infância, por outros répteis adultos, que vem perpetuando a barbárie emocional e alimentando o homérico pileque da humanidade. Nós somos os répteis, pois preferimos causar a dor no outro, para não senti-la na pele. Nós somos os répteis e, insensíveis, fechamos nosso coração para o sofrimento do mundo, defendendo nosso miserável território, enquando hipocritamente afirmamos que o resto não é problema nosso.

Ai, mas você generaliza tudo. Generalizo, como boa cassandra, estou aqui para generalizar e perturbar,  é só assim que eu sei fazer. Quem quiser, se achar que minhas generalizações podem de alguma forma ser úteis, que faça o esforço de olhar para si, olhar para fora e ir além, tirando suas próprias conclusões e buscando se aprofundar um pouco mais. Afinal de contas – só para generalizar mais um pouquinho e usar também alguns clichês - a profundidade, assim como a beleza, está nos olhos de quem vê, né?






Obs: Netuno rege a sensibilidade, a compaixão, a espiritualização, a empatia, assim como o sofrimento, e os mecanismos de fuga utilizados para escapar das dores, como as drogas, a embriaguez, a alienação.

Netuno está no signo de Peixes desde o dia 03 de fevereiro e aí ficará pelos próximos 14 anos, tempo que nós, astrológos cassandrianos, esperamos que seja suficiente para que a humanidade desperte e abra seu coração.

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